Embora seja o gênero no qual brilhou com mais intensidade, Clarice Lispector curiosamente nunca havia tido seus contos reunidos em um só volume. Isso mudou há dois anos, quando o pesquisador Benjamin Moser – que é também seu biógrafo – publicou nos Estados Unidos a coletânea The complete stories. Organizado por ele, o livro foi apontado pelo prestigioso The New York Times como um dos cem melhores lançamentos de 2015.

Pois agora, neste mês de maio, a editora Rocco traz a obra para o desfrute do leitor brasileiro. Todos os contos agrega 85 narrativas curtas produzidas por Clarice dos 19 anos de idade à antessala da morte. Além de incluir a íntegra de compêndios clássicos como Laços de família e Legião estrangeira, o livro contempla textos veiculados em órgãos de imprensa originalmente como peças de jornalismo, mas nos quais Moser vê traços ficcionais. “Clarice não respeitava os limites entre os gêneros”, resume ele.

Para além do culto, e estamos falando de uma autora cuja arte muitas vezes nos seduz pela epifania, os relatos reiteram o pleno domínio técnico da escritura. Textos como Amor, Uma galinha e Felicidade clandestina, pequenas e singularíssimas obras-primas, são apenas alguns exemplos.

“Que mistérios tem Clarice?”, pergunta Caetano Velloso no verso de uma de suas canções. Em Todos os contos, o leitor tem mais uma oportunidade para tentar decifrar esse enigma.