14/10/2016 - 13:48

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E foram felizes... mesmo separados

14/10/2016 - 13:48

E foram felizes... mesmo separados

Livro de Paulo Lins e Silva aborda aspectos do casamento, antes, durante e – porque não? – depois

RENATA LOBACK

Lançado em julho deste ano, o livro O casamento – antes, durante e depois (Edições de Janeiro), de Paulo Lins e Silva, retrata a experiência de 55 anos de profissão e 45 de casamento de um dos advogados de família mais renomados do país. Ex-presidente da União Internacional de Advogados, o segundo e último brasileiro a ocupar o cargo, assessor de Relações Internacionais do Conselho Federal da Ordem, diretor internacional do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e diretor do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFam), Lins e Silva afirma que a ideia era fazer uma obra que pudesse transitar tanto no meio quanto por quem nunca teve contato com o ordenamento jurídico. “Tenho muitas histórias de escritório e numa conversa com amigos recebi a sugestão de transformá-las em livro. Para aprofundar a questão, resolvi falar das transformações culturais de nossa sociedade, através de um comparativo das relações matrimoniais ao longo dos anos. Mas uma de minhas maiores preocupações era a linguagem. Queria que o livro pudesse circular na mão de diferentes pessoas e não apenas entre advogados. O casamento, para mim, é a base da sociedade”, observa.

Para Paulo Lins e Silva, vocação é o que define um advogado de família. “Precisamos ter paciência com os clientes e empatia para entender as sutilezas de cada situação. Ao mesmo tempo, não podemos nos envolver. Não acho correto, também, manter um convívio social. A disponibilidade de um advogado de família precisa ser constante. Com tantas regrinhas, apenas com vocação é possível se dedicar a esta área”, salienta.

Por ser muito conhecido no meio profissional, Lins e Silva guarda outro cuidado: evita aparecer em público ao lado de figuras conhecidas na sociedade. “Infelizmente, já passei pelo constrangimento de almoçar com um amigo e divulgarem que, por estar comigo, ele estava se separando”, relembra.

No livro, dividido em capítulos que respeitam a lógica do título -- o antes, o durante e o depois do casamento –, o advogado aborda as nuances de cada questão e destaca exemplos por meio de histórias vividas em sua carreira. Através delas, é possível observar as mudanças de costumes e a evolução do nosso ordenamento legal. “Hoje, não é mais necessário apresentar motivos para um pedido de divórcio, mas antigamente isso era exigido. Por esta razão, casos de adultérios eram investigados como que em filmes, com coleta de roupa íntima e lençóis para sua comprovação. São situações que renderam boas histórias em minha vida profissional”.

Apesar de lidar com muitas separações, o autor diz não ser um advogado “desquiteiro”. Na primeira visita de um cliente que pretende se divorciar, Lins e Silva sempre busca reconciliação, relata. Apenas depois de esgotar todas as tentativas de solução é que o advogado começa a falar sobre o divórcio, que, para ele, é tratado como um remédio. “Ninguém casa pensando em se separar. Esta decisão é muito difícil e dolorida, mesmo quando atende a vontade de ambos”.

Há casos de clientes que gostam tanto de suas consultas que agendam visitas semanais. “Eles acham que eu sou tipo um terapeuta. Mas este é um momento de tanto desencontro emocional que as pessoas ficam dependentes dos conselhos dos advogados”.

O trabalho multidisciplinar com o auxílio de profissionais da área da psicoterapia, como psicólogos e psicanalistas, é definido por Lins e Silva como essencial no que se refere ao Direito de Família. “Principalmente em situações envolvendo crianças”, aponta.

“No livro, mostro a família em suas nuances. O início como uma fase de descobertas e cuidados que devemos tomar. A concretização do matrimônio e todos os detalhes técnicos e burocráticos, que não podem ser negligenciados. E, por fim, como administrar a dissolução de um sonho. Muito importante para um advogado de família, em todas essas etapas, é ter por perto uma estrutura de bons profissionais. Quando há crianças nestas questões, não podemos ser o advogado de pais ou mães. O mais importante numa fase separatória é o bem-estar e o interesse de um filho”, pontua Lins e Silva.

Para ele, casamento é a construção de um núcleo familiar. “Quem vai casar tem que pensar muito bem antes de tomar esta decisão. Analisar se os dois falam o mesmo idioma e se entendem emocionalmente, culturalmente, socialmente e sexualmente. Na separação é sempre bom avaliar bem o motivo. O perdão, às vezes, tem um grande alcance. O diálogo remedia muito e é vital. Nas cessões do casal é que o casamento cresce. Não havendo solução, o divórcio é sempre um remédio. Mas não se arrisquem em fazê-lo com advogados de outras áreas do Direito. Um especialista é também um bom orientador. As pessoas também acham que, ao procurar um bom advogado em determinado assunto, terão maiores vantagens materiais. O bom defensor é o que irá dialogar com o outro, visando a obter um consenso e um acordo que seja benéfico para ambos”, diz.

Segundo o autor, o Direito de Família é a área mais humana dos direitos. “Por esta razão a especialização é tão importante. Quando eu preciso tratar de assuntos trabalhistas ou da área comercial, faço uso de profissionais que dominem estes setores. Há uma lógica para os profissionais se encaminharem às diferentes áreas: identificação, aptidão e dom”, pondera. 

Em suas 211 páginas, a obra ainda trata de temas recentes, como a guarda compartilhada e os casamentos homoafetivos. Os trechos em destaque na matéria foram retirados do livro.

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