12/04/2018 - 13:41

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I Encontro Estadual da Mulher Advogada presta homenagens a Marielle

12/04/2018 - 13:41

I Encontro Estadual da Mulher Advogada presta homenagens a Marielle

O grito de lamento “Marielle, presente!”, que vem marcando as manifestações de luto pelo brutal assassinato da parlamentar no dia 14 de março, se fez confirmar em todos os discursos dos palestrantes do I Encontro Estadual da Mulher Advogada da OAB/RJ – 30 anos dos direitos da mulher na Constituição Federal, realizado pela Comissão OAB Mulher, sob a presidência de Marisa Gaudio.

Essa presença simbólica da vereadora do PSOL foi sentida logo no início, quando os palestrantes e a plateia majoritariamente feminina que lotou o plenário Evandro Lins e Silva, dia 16, fizeram um minuto de silêncio. Outro momento tocante foi quando Ângela Borges Kimbangu, do Grupo de Trabalho Mulheres Negras, da OAB/RJ, ergueu o punho e encerrou sua fala parafraseando Marielle: “Eu, mulher negra, resisto”.
Após discorrer sobre a desigualdade de gêneros nos cargos de poder na advocacia e na sociedade, Gaudio resumiu o sentimento geral: “Nós recebemos os tiros de Marielle. Ela era uma irmã de caminhada. Quando os homens saem para trabalhar, temem um assalto. Nós tememos ser estupradas”.

A advogada entregou uma carta de intenções da OAB Mulher ao presidente da Seccional, Felipe Santa Cruz, e ao tesoureiro e presidente da Comissão de Prerrogativas, Luciano Bandeira, pedindo que a voz das mulheres fosse ouvida.

Felipe contou que, por ter tido uma mãe militante política, não vivenciou o machismo em casa. “Precisei virar advogado e ver talentos enormes da advocacia, que começaram comigo e que eram muito melhores e maiores do que eu, serem alijados no processo de crescimento dos escritórios”, disse.

Para ilustrar sua tese, Felipe citou a ausência de mulheres entre as fotos dos ex-presidentes da casa penduradas na parede do hall do plenário e comprometeu-se a encampar a luta das advogadas.
Para a vice-presidente do IAB, Rita Cortez, o caso Marielle reforça a necessidade de lutar pelo Estado democrático de Direito e por sororidade, a fraternidade entre as mulheres. “Por nossas mortas, nem um minuto de silêncio, nem uma lágrima. Mas toda uma vida de luta”, discursou.  

Luciano fez coro ao classificar a morte de Marielle como um crime de ódio, de intolerância. “Temos que exigir que se descubra não só quem são os executores, mas quem são os mandantes dessa barbaridade”, afirmou.   
Um dos pontos altos do evento foi a palestra de Fernanda Marinela, primeira mulher a presidir a OAB/Alagoas e única presidente de seccional no triênio 2016-2018. A advogada foi enfática ao falar das lutas do feminismo. “Até quando vamos aceitar sermos objeto do desejo alheio? Não podemos dar a ninguém a régua que mede nosso valor”, afirmou.

Marinela citou filmes com mulheres protagonistas, como a Mulher Maravilha, para exemplificar avanços, mas lamentou que ainda sejam tratadas como anexos nos partidos políticos, sem participar de deliberações.  
O caso Marielle deve ser usado, na opinião da advogada, para que se reflita sobre a violência cotidiana sofrida pelas mulheres. “É uma oportunidade de consolidar e reconhecer que há muito a ser feito”.

Numa das falas mais incisivas do evento, a diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ e membro da Associação Brasileira de Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ), Ivone Caetano, denunciou o preconceito no Judiciário, instituição que, segundo ela, é uma das mais racistas e elitistas da sociedade. Em pleno século 21, Caetano, aposentada, é a primeira negra a ter ocupado o cargo de desembargadora no Rio de Janeiro e a segunda no Brasil (a primeira foi Luislinda Valois).

“Por anos, ouvi coisas bárbaras. Quando cheguei, em 1994, só havia duas mulheres desembargadoras. Na minha posse, me perguntaram se eu iria à cerimônia com este cabelo. Depois, entravam na minha sala e perguntavam onde estava a juíza”, lembrou ela, frisando que houve, sim, avanços importantes no Judiciário para a mulher branca. Mas para a negra, não. “Ainda falta muito para que outra venha me substituir”.

Depois de narrar os percalços na ascensão profissional – ela passou no concurso na sexta tentativa, já aos 49 anos – Caetano deu um recado às novas gerações: “Vocês têm que prosseguir. Não parem porque sofreram racismo, já que ele é diário”.

A advogada lamentou a morte de Marielle e o fato de a vereadora ter sido uma voz tão rara. “Mulher não vota em mulher. Se votasse, estaríamos mais longe”.
 

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