14/10/2015 - 16:45

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Comissão Estadual da Verdade aponta suspeitos por atentado à OAB em 1980

14/10/2015 - 16:45

Comissão Estadual da Verdade aponta suspeitos por atentado à OAB em 1980

A Comissão Estadual da Verdade (CEV-Rio) apresentou, dia 11 de setembro, na OAB/RJ, o relatório com a conclusão das investigações do atentado à sede do Conselho Federal da OAB no dia 27 de agosto de 1980. Após mais de dois anos de trabalho, a comissão chegou à conclusão de que grupos de oficiais do Centro de Informação do Exército (CIE) foram os responsáveis pelo atentado – no qual uma carta bomba endereçada ao então presidente da Ordem, Eduardo Seabra Fagundes, explodiu e matou a secretária Lyda Monteiro da Silva. Na época, a sede da entidade ficava no Rio de Janeiro, no prédio onde hoje funciona a Caarj.

O vice-presidente da OAB/RJ, Ronaldo Cramer, representou o presidente Felipe Santa Cruz. “O atentado marcou a advocacia, porque mostrou que, quando a Ordem é atacada, reage com mais força. Esse episódio ajudou a forjar nossa entidade e a advocacia brasileira. Sinto-me aliviado com esse esclarecimento”, afirmou. O presidente da OAB, Marcus Vinícius Furtado, ressaltou o papel da entidade na mobilização em torno do caso. “Este é um encontro do Brasil com a sua história. Mas temos a obrigação legal de levar o fato ao conhecimento das autoridades responsáveis. Vamos ao procurador-geral da República, para que verifique a responsabilidade penal, já que a Lei de Anistia é de 1979 e não se aplica a este caso, de 1980. O crime é imprescritível”.

O relatório apresentado pela presidente da CEV-Rio, Rosa Cardoso, apontou que quem entregou a carta bomba a dona Lyda foi o sargento Magno Cantarino Mota, ligado ao CIE e que adotava o codinome Guarani. A comissão chegou a quatro testemunhas, sendo uma delas ocular, cujo nome os membros da comissão preservaram, e que reconheceu Guarani como a pessoa que portava a carta. O militar, segundo as investigações, mora em Campinho, na Zona Oeste do Rio. Ainda segundo o relatório, a ação foi comandada pelo coronel Fred Perdigão Pereira, também do CIE, além do sargento Guilherme Pereira do Rosário, que confeccionou o artefato. Rosário morreu em 1981, com uma bomba no colo, durante o atentado no Riocentro. “Estamos aqui sem ódio, sem ressentimento, sem preconceito, no sentido de poder compreender que pessoas que participaram desses fatos podem hoje ter uma visão crítica a respeito de sua conduta. O sentimento é do dever que membros da Comissão da Verdade têm de revelar atrocidades que ocorreram no passado, para que elas não se repitam”, disse Rosa Cardoso.

Ex-presidente da CEV-Rio e da OAB/RJ, o hoje deputado federal Wadih Damous  (PT/RJ) assinalou que a Ordem foi alvo do atentado porque a advocacia esteve na linha de frente contra a ditadura. “Lutávamos, na época, pela anistia e pela responsabilização dos agentes torturadores. O atentado à OAB e ao Riocentro estavam ligados. Todo o perfil desses agentes comprova que foram treinados para isso, e pertenciam à mesma turma na escola de paraquedismo. Faltava apenas a comprovação final, que temos agora”, afirmou. 

O filho de dona Lyda, Luís Felippe Monteiro, agradeceu o empenho no esclarecimento do atentado. “Os grandes protagonistas são os integrantes da Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, que finalmente, após 35 anos, restabeleceram a verdade”.
 

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