05/06/2013 - 16:38

COMPARTILHE

Aos 82, um novo desafio

05/06/2013 - 16:38

Aos 82, um novo desafio

Foi com a mesma naturalidade com que aceitou todas as mudanças que enfrentou na vida que Jovino de Jesus, de 82 anos, resolveu encarar a transição para o processo eletrônico. Advogado criminalista, ainda não foi obrigado a fazer a certificação digital para continuar trabalhando, mas se adiantou e procurou a OAB/RJ, ciente da iminente transformação da Justiça.
 
“Tem muita gente por aí dizendo que o processo eletrônico não vai acontecer, não vai vingar. Como podem dizer isso? Já está acontecendo! É inevitável”, opina ele, que só aguarda seu certificado para começar a peticionar por meio digital.
 
Jovino entrou em contato com a Seccional em abril, por meio do Portal da OAB/RJ, para pedir instruções sobre o processo eletrônico. Na Ouvidoria, foi encaminhado para os setores responsáveis por providenciar sua certificação e matrícula em uma das aulas de peticionamento eletrônico ministradas pela Diretoria de Inclusão Digital.
 
Segundo a diretora do núcleo, Ana Amelia Menna Barreto, advogados como Jovino, já idosos, são os mais interessados e receptivos aos ensinamentos de informática: “Os colegas mais experientes são movidos pela determinação de continuar advogando, estão dispostos a enfrentar os desafios da inclusão digital e demonstram estar plenamente satisfeitos em conseguir realizar todas as etapas das atividades propostas”.
 
O advogado confirma a observação: “Fui autodidata em informática. Aprendi o básico sozinho, porque não tive escolha. A tecnologia é assim: quando enfim consegui comprar minha Olivetti, achando que estava equipando meu escritório bem, a máquina de escrever já estava ultrapassada e eu nem sabia. As coisas vão passando e temos que acompanhar”, diz ele, afirmando não ter tido maiores dificuldades para entender o conteúdo do curso.
 
A abertura de Jovino à evolução das ferramentas para o exercício profissional reflete um estilo que marcou suas mais de oito décadas de vida: já foi de motorista de táxi a lapidador de diamantes, de professor de cursos livres a dono de boate.
 
“Comecei a trabalhar aos 12 anos, lapidando diamantes. Aprendi muito e estava formando carreira quando o Brasil passou a exportar as pedras brutas. Quebrou nosso mercado. Nessa época, não protestávamos muito. Abríamos o jornal e procurávamos vagas, na área que fosse”, conta ele, que depois conseguiu emprego relacionado à moda, em exposições de confecções.
 
A advocacia só entrou na vida de Jovino quando já tinha quase 50 anos, após sofrer um processo trabalhista. “Abriguei um morador de rua, surdo-mudo, na boate que eu tinha no Centro e ele passou a trabalhar para mim informalmente. Quando quebrei, ele entrou na Justiça do Trabalho contra mim”.
As inspirações em leituras e vivências o levaram à área criminal: “Após o processo, me interessei por Direito, mas não quis mais nenhuma relação com a área do trabalho, por tudo o que havia passado. Como, desde a infância, lia textos sobre detetives e investigações criminais em revistas como a X-9, e presenciei muitas injustiças ao longo da vida, decidi trabalhar com essa matéria. Foi algo natural”, conta.
 
Há quase 30 anos na profissão, Jovino relata que se dedicou totalmente a ela e não deixou de enfrentar percalços no caminho. Na explosão do restaurante Filé Carioca, na Praça Tiradentes, em outubro de 2011, perdeu parte de seu escritório, interditado até hoje. “Agora já podemos entrar, mas, sem luz e água no prédio, é impossível limpar a sala, que está ainda como ficou após a explosão”.
 
Jovino pôde continuar a trabalhar graças à disponibilidade de uma sala comercial que seu filho possuía, também no Centro. Morador de Campo Grande, ainda enfrenta as dificuldades dos profissionais que militam longe de casa com disposição e paciência invejáveis, que lhe permitem tanto aguardar a resolução do problema de sua sala quanto a inevitável digitalização da Justiça.
 

Abrir WhatsApp