11/07/2017 - 13:46

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Relação entre presidiárias e seus filhos na mostra do Centro Cultural Correios

11/07/2017 - 13:46

Relação entre presidiárias e seus filhos na mostra do Centro Cultural Correios

A dura realidade das mulheres presas, em especial no que diz respeito às suas relações com filhos e familiares, é o tema da exposição Ausência, de autoria da fotógrafa Nana Moraes, e que está em cartaz com entrada gratuita no Centro Cultural Correios até o dia 6 de agosto. A mostra é resultado de um trabalho de seis anos da fotógrafa, que incluiu mais de 15 visitas ao presídio, e se concentrou em seis mulheres, mais de 40 cartas trocadas, e muita linha e retalhos.

Parte da programação oficial do FotoRio, a mostra faz parte da trilogia DesAmadas, na qual Nana desvela a vida de mulheres estigmatizadas. O primeiro volume foi lançado em 2007 com o livro Andorinhas, que investiga a vida de prostitutas de estrada.

“Tenho essa vontade de tornar visível o que não se quer ver. Depois de fotografar um segmento tão carente e abandonado, para onde eu iria agora? Quando estava fazendo Andorinhas, muitas prostitutas falavam ‘sou prostituta, mas não sou criminosa’. Daí veio a ideia de mergulhar no mundo das presidiárias, elas precisam de voz”, explica Nana.

A fotógrafa relata que, ao se deparar com a realidade das mulheres presas e com a ruptura do laço familiar imposto pela situação, filhos sendo criados por avós, tios, vizinhos, ou até ficando abandonados, percebeu que não poderia contar suas histórias apenas escrevendo e retratando. “Era preciso contar de uma maneira diferente: costurando esses laços rompidos”.

Assim, 18 mulheres do presídio Nelson Hungria, do Complexo de Gericinó, em Bangu, no Rio de Janeiro, foram escolhidas para o projeto. Elas teriam a oportunidade de se conectar novamente com seus filhos que não viam ou nem sabiam como estavam por muitos anos, através de fotografias e cartas, meios de comunicação favoritos de Nana.

Das 17 mulheres que iniciaram no projeto, apenas seis receberam autorização dos cuidadores dos filhos para participar. Nana viajou para o Paraná e, no Rio, foi a Barra Mansa, Valença, e na Baixada, onde visitou casas para fotografar os filhos e entrevistá-los.

Segundo Nana, foi a partir desse momento que as grandes fotos apareceram: as mulheres recebendo as cartas com as fotos dos filhos. “Quando eu falo que as grandes fotos apareceram, não estou falando da técnica ou luz, estou falando que consegui fotografar a subjetividade delas. Queria falar pela fotografia. É a narrativa que me interessa”, explica.

Completando o processo artístico, Nana costurou manualmente, inspirada pela técnica têxtil chilena arpillera, diversas peças que representam aconchego, calor e conforto, como cobertores, mantas e toalhas, feitas a partir de retalhos de tecidos e fotos, e bordados de frases que ouviu das presas e familiares e de trechos das cartas: “Escolhi contar essas histórias dessa forma pois é como se eu estivesse costurando, remendando essas relações entre as mães e seus filhos e filhas”.

O Centro Cultural Correios funciona de terça-feira a domingo, das 12h às 19h, na Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro. Mais informações no site www.correios.com.br ou pelo telefone (21) 2253-1580.

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