29/07/2016 - 17:35

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De office boy a presidente

29/07/2016 - 17:35

De office boy a presidente

À frente da OAB/Macaé desde o início do ano, Fabiano Paschoal tem uma trajetória que se confunde com a história da subseção, onde trabalhou por 18 anos antes de assumir a presidência
 
NÁDIA MENDES 
A ligação de Fabiano Paschoal com a OAB/Macaé é bem anterior ao seu interesse pela advocacia e surgiu quase por acaso. Com 14 anos, ele começou a estagiar na subseção graças a um projeto do governo estadual que pretendia a inclusão de adolescentes com vulnerabilidade social no mercado de trabalho. O projeto garantia permanência no estágio por quatro anos. “Foi o meu primeiro emprego, apesar de não possuir vínculo empregatício”, afirma Fabiano. O trabalho era, basicamente, o de um office-boy. Ele começou na Sala do Advogado no fórum da cidade e, depois, foi transferido para a sede, onde trabalhou na secretaria.

Durante os quatro anos de entregas de documentos e cópias, a advocacia não estava nos planos do garoto. Na realidade, Fabiano sonhava alto, literalmente, pois queria ser piloto de avião. Segundo ele, possivelmente inspirado pelas várias vezes a que assistiu ao filme Top gun durante a infância. Mas o medo de altura foi o motivo concreto que o impediu de realizar esse sonho e permitiu, por outro lado, que olhasse para o que era mais próximo e possível. O fator financeiro também foi determinante para a desistência, já que o curso para piloto era muito caro e estava além da capacidade financeira de sua família.

Fabiano estudou a vida inteira em escolas públicas, exceto durante a faculdade. Viveu grande parte da infância em diferentes bairros da periferia de Macaé e foi criado no Morro de São Jorge. Morou por um tempo em Cantagalo e em Barra de São João. Seu pai era pedreiro e a mãe, empregada doméstica. Ambos já faleceram. 
E como muitas famílias nas periferias do Brasil, a de Fabiano não escapou da violência urbana e do tráfico de drogas. Dois de seus irmãos perderam a vida ainda jovens, um com 16 e outro com 24 anos, em 1997 e em 2006, respectivamente. Um deles, na mesma semana em que Fabiano prestou o Exame de Ordem. “Estava sem cabeça nenhuma para fazer a prova no dia”, disse. 
 
Descoberta da profissão
 
Passados os anos como estagiário, foi efetivado como funcionário da subseção, a convite do presidente na época. Já com 18 anos e o ensino médio completo, o momento de decidir o futuro se tornava inadiável. Um dia, entregando uma carta em um escritório de advocacia, perguntou a um colega se era muito difícil ser advogado. A resposta surpreendeu. “Ele apontou uma parede enorme e cheia de livros de cima a baixo e disse que para ser advogado eu deveria saber tudo aquilo de cabeça. Até hoje eu não sei se ele queria me incentivar ou me fazer desistir”, ri, ao rememorar o episódio.

O desafio motivou Fabiano, que apostou que, se havia pessoas capazes de aprender todas aquelas leis, ele também poderia. Além do desafio, as possibilidades da profissão o encantaram. Decidiu, portanto, começar a cursar Direito ao mesmo tempo em que continuava a trabalhar na subseção. Como na época não havia o curso em Macaé, ia todos os dias para Campos, enfrentando uma hora e meia de viagem. “Saía às 17h da subseção e tinha que pegar o ônibus para Campos às 17h20. Isso todos os dias, durante cinco anos”, recorda-se. 

Durante a faculdade, além das aulas de Direito e do trabalho na subseção, Fabiano também se engajou no movimento estudantil. Por três mandatos consecutivos, presidiu a Associação dos Estudantes Macaenses. Depois, também por três mandatos, dirigiu a União Municipal dos Estudantes. Nessa época, já estava convicto de que queria ser advogado, e a ideia de ser presidente da OAB/Macaé já passava pela cabeça. “Dizia que seria advogado e, um dia quem sabe, chegaria à presidência da subseção”, lembra.

Depois de concluir o curso e ser aprovado no Exame de Ordem, permaneceu como funcionário da subseção por mais três anos, quando decidiu pedir o desligamento e se dedicar exclusivamente à advocacia. “Como trabalhava das 8h às 17h, não tinha como fazer audiências”. O único período do ano em que conseguia trabalhar de forma plena era durante as férias. “Era quando eu podia ter um gostinho da profissão”, brinca. 
Apesar da vontade de atuar exclusivamente na advocacia, a decisão de sair de um emprego e abandonar o salário fixo não foi fácil. “Eu decidi sair porque já estava na hora de tocar minha vida”. Não houve arrependimento. Hoje Fabiano advoga nas áreas cível, de família e trabalhista e tem uma pós-graduação em Direito e Processo do Trabalho. “Quando atendo uma pessoa e ela conta comigo para resolver um problema, principalmente se o resultado é positivo, gera uma satisfação profissional grande. Não consigo me ver em outra carreira a não ser a advocacia”. 

Fabiano se define como profissionalmente realizado. “As justas reivindicações dos trabalhadores que lutam pela garantia dos seus direitos, as questões morais e afetivas da área de Família e a amplitude das questões que envolvem as lesões que se dão no dia a dia em sociedade são temas motivadores”, afirma.

No total, ele ficou 18 anos trabalhando na OAB, de 1992 a 2010, incluindo o período de estágio. Nesse tempo, atuou em diversas funções, inclusive a de chefe do setor administrativo. “A maioria dos funcionários que estão na subseção atualmente trabalhou comigo naquela época”. 

O objetivo de Fabiano, agora, é deixar um legado para a advocacia de Macaé. No início do ano, ele conseguiu junto à prefeitura do município a cessão de um terreno para a construção da sede própria da subseção. “É um sonho não só meu, mas de todos os colegas”, afirmou, ressaltando que os entendimentos com a Seccional para a realização da obra já estão adiantados. “Vamos entregar instalações à altura de Macaé até o fim da minha gestão, em 2018”, promete. 

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