29/07/2016 - 17:48

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Dica do Mês: Dois romances que mostram o vigor da literatura brasileira

29/07/2016 - 17:48

Dica do Mês: Dois romances que mostram o vigor da literatura brasileira

MARCELO MOUTINHO

Uma das marcas da nova geração de escritores brasileiros é, paradoxalmente, a falta de uma marca. De um peculiar traço estético que a distinga, para além do corte temporal, como “geração”. Ao contrário do que possa parecer, isso é ótimo. Não só porque revela uma bem-vinda liberdade quanto à filiação a escolas literárias, mas também por evidenciar, na variedade formal e temática, o momento de grande potência de nossa produção ficcional.

Os romances Entropia (Record), de Alexandre Martins Rodrigues, e Tentativas de capturar o ar (Rocco), de Flávio Izhaki, confirmam a tese. Ao estrear na narrativa longa, Rodrigues retorna a questões já presentes em seu livro anterior, a seleta de contos Parafilias, que venceu o Prêmio Sesc 2014 e foi finalista do Jabuti. No enredo centrado em três tramas que correm paralelamente, e partem da história de um homem à procura do túmulo da mãe, o autor esquadrinha os limites do corpo, do sexo, do desejo. A prosa de Rodrigues não se dobra a clichês. É original, desconcertante. 

Meta-literário, Tentativas de capturar o ar investiga as fronteiras – muitas vezes embaçadas – entre realidade e narrativa. O protagonista criado por Izhaki é um jovem acadêmico cujo projeto se expressa logo nas primeiras páginas do romance. Ele pretende biografar Antônio Rascal, célebre ficcionista que não publica nada faz 26 anos. Imbuído dessa tarefa, conversa com pessoas próximas, debruça-se sobre reportagens, resenhas, tentando reconstruir a trajetória do autor no afã de encontrar uma resposta para o autoimposto exílio literário. 

Em seu terceiro livro, Izhaki opta por uma estrutura fragmentária. O enredo é costurado por entrevistas, matérias de jornal e cartas com as quais o biógrafo vai se deparar ao longo da pesquisa. E que, não raramente, apontam caminhos insuspeitos, novas lacunas. Um ciclo que nunca se fecha. Talvez porque a vida, como o ar, seja mesmo incapturável.

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