08/12/2016 - 13:44 | última atualização em 08/12/2016 - 13:45

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Tribunal flutuante atende população na Amazônia

site UOL

Quando o barco ancorou de madrugada em Itamatatuba, um vilarejo perdido na Amazônia brasileira, o escrivão se levantou de sua rede a bordo. Os oficiais de justiça tomavam café. A juíza esfregou os olhos, sonolenta.
"Vamos ver o que há na pauta", disse a juíza Mayra Brandão, 37, revendo os casos do dia: o dono de um bar procurado por não pagar pensão alimentícia à filha, uma ameaça de incêndio e um fazendeiro acusado de disparar sua arma contra o rebanho de búfalos do vizinho.
 
Passei um dia em outubro a bordo desse tribunal flutuante enquanto ele enfrentava correntes agitadas, mosquitos transmissores de malária e a ameaça de piratas, para oferecer algo excepcional na rebelde fronteira brasileira da Amazônia: o Estado de direito.
 
A juíza e sua equipe embarcam nesse barco fluvial de três andares, chamado Rei Benedito, a intervalos de semanas, saindo de Macapá, a capital do Estado do Amapá, e navegam pelo rio Amazonas.
Até recentemente, os oligarcas locais suplantavam o Judiciário com seu próprio regime dominador. A justiça de bandos continua comum, e os linchamentos são frequentes. É comum que os moradores da selva peguem seus machados para resolver conflitos. "É aí que nós entramos", disse o sargento Eurismar da Cruz, 47, um policial de Macapá que serve como oficial de justiça no tribunal ribeirinho. Usando pistolas, ele e outros oficiais saem a cada manhã em um bote rápido em busca de pessoas suspeitas de ter cometido crimes.
 
Seu primeiro alvo em uma manhã de sexta-feira em Itamatatuba, um vilarejo de cabanas de madeira com cerca de 600 habitantes, era Jhon Beyck Pantoja, 35, dono da única discoteca do local.
 
Em uma mesa no deque do barco, onde horas antes estavam estendidas as redes, uma das ex-mulheres de Pantoja, Talia de Paula, 19, disse ao tribunal que ele tinha parado de pagar os cerca de US$ 30 (cerca de R$ 102) de sustento para sua filha de 3 anos, Manuela. "Esse homem é um bandido, um mentiroso e um mulherengo", disse De Paula, balançando Manuela nos joelhos enquanto olhava furiosamente para o ex-marido.
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