24/04/2018 - 18:02 | última atualização em 25/04/2018 - 11:29

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Selminha Sorriso é empossada em Comissão da Verdade da Escravidão

redação da Tribuna do Advogado

         Foto: Lula Aparício  |   Clique para ampliar
 
 
Clara Passi
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O sorriso que, de tão característico, virou parte do nome artístico da porta-bandeira da Beija-Flor Selma de Mattos Rocha deu lugar a lágrimas de emoção na manhã desta terça-feira, dia 24, no Plenário Evandro Lins e Silva, na sede da OAB/RJ. Selminha recebeu o diploma de integrante da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil pelas mãos do presidente, Humberto Adami, sob as bênçãos de integrantes da velha guarda e da ala das baianas da escola de samba de Nilópolis, todos igualmente comovidos. 
 
Selminha Sorriso acaba de se formar bacharela em Direito e foi homenageada também por sua atuação à frente do projeto social Sonho do Beija-Flor, voltado para crianças, que funciona na comunidade. O objetivo da palestra, intitulada Reparação da escravidão, samba e carnaval, foi relembrar momentos marcantes dos desfiles do carnaval deste ano, para que o tema não fique restrito apenas aos quatro dias de carnaval. Vídeos em homenagem a Dona Ivone Lara e a Marielle Franco abriram o evento.
 
“A população negra está ocupando os espaços, em vez de ser apenas objeto de estudo”, disse Adami sobre a nomeação de Selminha. “A reparação da escravidão é a única possibilidade de salvação do Brasil. O país ainda não conseguiu sanar a dívida histórica que tem com os negros e pardos, que representam 54% da população”.
 
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Na tribuna, Selminha narrou sua trajetória desde a infância na comunidade de Parada de Lucas até ser a primeira de sua família a ter ensino superior. “Devo tudo ao samba. Ano que vem, completo 30 anos exercendo esta arte, que era meu sonho de infância. Sei que faço parte da baixa estatística de mulheres negras que conseguiram o diploma”.
 
A desembargadora Ivone Caetano, a primeira mulher negra a ocupar essa posição no Rio de Janeiro, sublinhou que o samba foi muitas vezes criminalizado enquanto estava nas mãos do negro e hoje isso não ocorre mais. “Somos só massinha de manobra”, cravou ela. “Desde 1988, ficamos calados pensando que esta seria uma democracia racial, o que não ocorreu. O negro só tem valor na hora do voto”.
  
A carnavalesca Maria Augusta, madrinha da carreira de Selminha, relembrou enredos marcantes sobre a luta dos negros em carnavais passados. “O Salgueiro antes e hoje a Beija-Flor se destacam por falar do negro não só como sofredor, mas como sujeito, com suas causas e consequências. Isso é o mais importante no contexto do carnaval como artifício de reparação da escravidão”.
 
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A presidente da Cevenb da OAB do Piauí, Neusa Pereira, falou sobre a concessão do título de primeira advogada negra daquele estado a Esperança Garcia, mulher escravizada que denunciou em cartas as perversidades da escravidão no século 18. “Esses exemplos de resistência negra merecem tombamento como patrimônio imaterial, conforme prevê a Constituição. Merece estar em museus. É uma heroína, um exemplo de resistência que inspira”.  
 
A professora e representante da Casa das Pretas, no Centro, onde a vereadora do Psol participou de sua última atividade como parlamentar antes de ser assassinada, Neusa Pereira, espalhou borboletas pelo auditório. O inseto simboliza a luta das mulheres contra a violência da ditadura de Rafael Trujillo na República Dominicana (1930-1961).  A advogada de 90 anos e militante Ekedi Maria Moura e a agência de jovens modelos negros Grupo Palco dos Meus Sonhos também discursaram.
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