15/07/2016 - 10:43

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Restrição a caminhões para os Jogos pode parar na Justiça

jornal O Globo

Morando há mais de 30 anos em Copacabana, a aposentada Irene Rodrigues da Silva já perdeu a conta do número de interdições que já viu no bairro devido a grandes eventos. Mas, nesta quinta-feira, dia 14, a notícia sobre a restrição da circulação de caminhões de cargas pela cidade a partir de segunda-feira, por um período de quase dois meses, tirou a moradora do sério. Há cerca de duas semanas, uma infiltração no banheiro atingiu os armários do quarto e a obrigou a antecipar a obra que vinha adiando. Para piorar, a geladeira pifou. Ela teme não conseguir resolver as duas questões domésticas.
 
"Se fosse um eletrodoméstico menor... Mas foi a geladeira. E eu encomendei um espelho que tem a altura da parede, armários grandes e mármores para a obra, só que nada disto cabe em caminhonetes pequenas. E não tenho como antecipar as entregas até o domingo. Então, só vou poder concluir a obra em setembro?", questiona.
 
A preocupação de Irene é parecida com a de vários setores que serão afetados por uma restrição tão longa. A partir de segunda-feira, os caminhões não poderão trafegar entre 6h e 21h, nos dias úteis, no Centro e na Zona Sul. Já nas zonas Norte e Oeste, não poderão circular entre 6h e 11h e entre 17h e 21h nos dias úteis. Na Avenida Brasil, principal corredor de abastecimento da cidade, as restrições acontecem de segunda a sexta-feira entre 6h e 10h e das 17h às 21h.
 
Mesmo com todas as reuniões entre federações e associações de classe com a Prefeitura do Rio e com a Empresa Olímpica, o setor de varejo ontem ainda tentava absorver o impacto da medida que começa a valer nas próximas 72 horas. Diretor-presidente da Mudanças Gato Preto, Aureliano Lima está solicitando à prefeitura autorização prévia para circular com seus veículos fora do horário previsto de 22h às 6h. Se não conseguir, pretende entrar com mandado de segurança contra o município: "Não há como trabalhar neste horário devido à lei do silêncio. É proibido, além do fato que nenhum condomínio permitiria o uso de elevadores no horário noturno ou da madrugada", afirmou.
 
Aureliano contou que recebeu decreto informando que os veículos de transportes de valores, de socorro e de mudanças residências poderão circular também durante o dia, desde que autorizados pela Secretaria Municipal de Transportes: "Estou oficiando a prefeitura para saber se a Secretaria de Transportes irá manter um plantão para atendimento ou se posso pedir autorização prévia. Caso contrário, vou recorrer à Justiça porque não tenho como ficar quase dois meses sem funcionar - disse o diretor-presidente, cuja empresa tem 76 anos, cerca de cem funcionários e faz em média dez mudanças por dia. Não há como dar férias coletivas por um período tão longo."
 
Custos com adicional noturno
 

Responsáveis por fornecer mais de 80% de tudo que é consumido na cidade, os produtores da Ceasa conseguiram flexibilizar o horário de funcionamento do centro de abastecimento para que os caminhões possam sair do local até a meia-noite.
 
"São 3.200 caminhões ao dia. Recebemos cargas que vêm desde o Tocantins, como de melancia. Se não conseguíssemos adequar os horários da central com o horário da restrição da Brasil, provavelmente haveria risco de desabastecimento", afirmou o presidente da Associação Comercial dos Produtores e Usuários da Ceasa Grande Rio e São Gonçalo, Waldir de Lemos.
 
Presidente do Conselho Empresarial de Logística e Transporte da Associação Comercial do Rio e da Federação do Transporte de Cargas do estado (Fetranscarga), Eduardo Rebuzzi calcula que o horário de restrição irá causar um impacto de 20% no custo de boa parte das empresas. O percentual se deve ao pagamento de adicional noturno para manter lojas abertas e, assim, receber mercadorias. É o caso de supermercados e transportadoras de cargas. Segundo ele, em reuniões com a prefeitura, entidades entidades envolvidas chegando a um consenso que o abastecimento será garantido.
 
"No começo, a prefeitura veio com a ideia de que caminhão não podería funcionar. Lembramos que sem abastecimento não há Olimpíada, porque temos que prover hotéis, restaurantes e locais de provas. Houve uma flexibilização. Tem gente que está reclamando, e eu entendo os prejuízos. Mas é preciso que se entenda que Olimpíada é a maior operação logística do mundo, depois das guerras. Os empresários querem faturar no evento. Então, terão que se organizar", avaliou.
 
Presidente da Associação de Supermercados do Rio de Janeiro, Fábio Queiróz contou que as empresas estão fazendo simulações na madrugada: "A maioria dos supermercados não funciona no horário noturno. Então, tiveram que contratar pessoal extra para trabalhar à noite e de madrugada para receber os produtos. Estamos fazendo simulações. Não há ainda como aferir o custo disto. Caberá à cada empresa decidir se repassará este custo ao consumidor".
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