01/04/2016 - 10:36

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Para presidente de comissão, expulsão de atores de voo foi ato de racismo

jornal O Globo

Membros de organizações ligadas à promoção da igualdade racial condenaram a atitude de um comandante da Avianca, que expulsou o ator Érico Brás e sua mulher, Kênia Maria, de um voo que ia de Salvador para o Rio de Janeiro, ontem, por considerá-los uma "ameaça" Conforme informou o site da Patricia Kogut no jornal O Globo, o tumulto começou quando a mulher de Brás tentou colocar a bagagem de mão embaixo da poltrona da frente.
 
"O avião estava cheio e o compartimento de bagagem lotado. Quando ela foi guardar a bolsa embaixo da cadeira, o que é um procedimento padrão, o próprio comandante veio e disse que não poderia ser ali. Foi extremamente grosseiro e mal educado", contou o ator ao site.
 
Após a discussão, a Polícia Federal foi acionada e o casal teve que deixar o avião. "Disse que não tinha motivo para sair do voo e eles me falaram que eu era uma ameaça. Não sou terrorista. Eu me senti extremamente impotente. Infelizmente esse é o tipo de tratamento. As pessoas te olham por causa da sua cor. Registrei uma denúncia na Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e vou acionar meus advogados", prometeu Brás.
 
Na opinião do Frei David Santos, diretor-executivo do Educafro, o casal foi vítima de racismo. Segundo ele, esse tipo de tratamento é recorrente. "Há uma doença social no Brasil, gerada por uma classe economicamente razoável, que tem dificuldade em ver o negro em espaço não tradicionalmente frequentado por negro", observa. "Esse comandante dirige dezenas de voos, o índice de negros que vê é muito baixo e quando vê, observa com desconfiança, como a polícia. Queremos que a justiça puna exemplarmente, será um ato educacional para o conjunto da sociedade brasileira que precisa respeitar os negros", disse.
 
"Abuso de poder"
 
Presidente da comissão de Igualdade Racial da OAB/RJ, Marcelo Dias defende que, para combater esse tipo de atitude, um dos pontos principais é que as vítimas levem os casos à Justiça: "Não tenho dúvida que foi um ato de racismo. Se o ator fosse branco tenho certeza que o comandante não tomaria essa atitude de retirá-lo do voo. Existe uma prática em parte da sociedade de tratar o cidadão negro como cidadão de segunda categoria. O caminho é levar à Justiça todos esses casos, que acontecendo diariamente, não são casos isolados. Quando o negro começa ocupar determinados espaços, como universidades, aeroportos, o racismo aflora".
 
A neta de Dona Zica e Cartola, Nilcemar Nogueira, que testemunhou a cena, publicou em sua página no Facebook um texto repudiando a situação que classificou como "abuso de poder" e "racismo" Nilcemar deixou o voo junto com outros sete passageiros, em apoio ao casal.
 
A Avianca declarou em nota que "mantém a sua prioridade na segurança de voo, em respeito a todos os seus passageiros. No caso referido, a Polícia Federal foi acionada, como é praxe no setor, porque um grupo de clientes recusou-se a seguir as orientações dos comissários sobre a acomodação das bagagens".
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