21/09/2023 - 17:59 | última atualização em 21/09/2023 - 19:50

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Pioneiras da advocacia feminina em cargos de poder se unem para debater sistema OAB na conferência

Painel discutiu caminho iniciado por Esperança Garcia no século XVIII

Yan Ney

Pioneirismo, palavra que marcou painel vespertino na III Conferência da Mulher Advogada voltado para a presença feminina no sistema OAB, cujo grupo é maioria entre os inscritos da Ordem. Se hoje existem quase 700 mil advogadas espalhadas pelo Brasil, em contraponto aos 662 mil advogados, é preciso analisar várias histórias pioneiras. Algumas foram partilhadas no palco do Theatro Municipal, na frente de centenas de colegas que acompanharam o encontro.

Pioneirismo na história da mediadora, a secretária-adjunta do TED, Maria Adélia Campello, a primeira presidente do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), em 2006. Ao abrir a cerimônia, Maria Adélia saudou os presentes e expressou felicidade ao presenciar um encontro de colegas advogadas.


“Realmente me orgulho disso. Imaginem vocês como foi a experiência de uma mulher em comandar uma casa masculina, porque o IAB era uma casa de homens. Eu cheguei lá. Foi muito ruim. Fui muito rejeitada e criticada. Isso por trás, porque pela frente havia muita gentileza. Isso tudo por ser mulher”, destacou.



Pioneirismo também com Daniela Borges, a primeira presidente da OABBA em 90 anos, que ao lado de quatro mulheres são as únicas presidentes de seccionais no Brasil. “Sou uma, mas não sou só”, repetiu o refrão da música Povoada, que abriu sua fala acompanhada de palmas ritmadas do Theatro Municipal. Para destacar a força que vem do coletivo feminino e da emoção em visitar sedes de Ordem com conselhos representativos em 50%, Daniela exprimiu que essas iniciativas devem prosperar. “Tem que ser solo fértil”.

“A igualdade ou é para todos e todas, ou não é igualdade. É simplesmente uma luta para que alguns estejam lá. A luta pela igualdade é para que todos tenham as mesmas oportunidades. Nem todos os homens nem todas as mulheres querem participar do sistema OAB. A diferença entre os dois gêneros é que as mulheres que querem não conseguem por uma série de desafios”, garantiu.

A secretária-adjunta da OABPR, Roberta Santiago, abordou a violação das prerrogativas da classe, citando o caso de colega que foi detida em presídio durante visita a um cliente por usar absorvente interno. A vítima contou que passou pelo escaneamento corporal e não recebeu qualquer explicação sobre o motivo da detenção. “Precisamos atuar de forma livre em todo território nacional garantindo nosso Estatuto e, principalmente, lutar contra qualquer obstáculo à nossa função social”. 

Enquanto isso, a representante da OABSP, Isabela de Castro, trabalhou o espaço de voz e o poder de decisão no sistema OAB. Numa passagem, ela relatou que um colega lhe abordou para falar que “é difícil encontrar mulheres para atuar na Ordem, porque muitas mulheres de família não saem de casa à noite, quando se faz política em botecos”.

“A justiça começa quando nos dispomos a aplicá-las dentro da própria casa”, expressou.

Coroando o painel, a vida de Esperança Garcia, mulher escravizada, que em 2022 ganhou da OAB o reconhecimento de ser considerada a primeira mulher advogada do país, recebeu espaço na voz da pioneiríssima Silvia Cerqueira, a primeira mulher negra a alcançar o conselho da Ordem dos Advogados. A palestrante revelou que o reconhecimento não se deu porque Esperança Garcia não tinha letramento e nem formação jurídica, embora não houvesse estatuto que regulamentasse a profissão.

A vida de Esperança e Silvia se cruzam no pioneirismo e na luta contra preconceitos. Hoje, para a conselheira federal, o desafio a ser superado é outro.


“Eu, nessa pavimentação de estrada, ultrapassei o preconceito de gênero, de raça e o etarismo. Mas digo a vocês, que com Esperança, vou rumo ao Supremo Tribunal Federal”.



Por um minuto, o Theatro Municipal se levantou e, de olho nas vitórias do passado, encorajou Silvia nesse objetivo, que talvez seja alcançado com a aposentadoria da ministra Rosa Weber ainda este ano. Alguns presentes na plateia torceram: “já está lá”. Ao ouvir isso, Silvia se emocionou enquanto as palmas do histórico prédio a abraçavam.

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