21/09/2023 - 17:38 | última atualização em 21/09/2023 - 20:48

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Painel sobre mercado de trabalho destaca necessidade de união feminina e presença forte no mundo digital

Felipe Benjamin


Os desafios enfrentados na luta por espaço no mercado de trabalho foram tema do terceiro painel da III Conferência Estadual da Mulher Advogada. Conduzida pela presidente da Comissão de Criminologia do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e conselheira da OABRJ Márcia Dinis, a mesa "Mercado de trabalho das advogadas" combinou momentos de emoção e descontração e trouxe à tona debates importantes e atuais.

"Quero começar homenageando a primeira mulher a ter uma carteira de advogada no Brasil, Myrthes Gomes de Campos, lembrando que ela demorou sete anos, desde sua formatura até receber a carteira, em 1906", afirmou Dinis.


"E, desde Myrthes, seguimos enfrentando preconceitos nesse espaço tão masculinizado do Direito, e especialmente neste mercado de trabalho, em que somos maioria. Ainda assim, seguimos sendo minoria nos cargos superiores, ilustrando aquilo que o feminismo chama de 'teto de vidro'. Não é possível debater as questões da mulher advogada sem falar de sua autonomia financeira".



Compuseram a mesa ao lado de Dinis a chefe de gabinete da Secretaria Nacional de Justiça, Lázara Carvalho; a presidente da OAB Jovem RJ, Amanda Magalhães; a presidente da Comissão da Diversidade do IAB, Deborah Prates, e a presidente da Comissão Especial de Inteligência Artificial, Ana Amélia Menna Barreto. 

"Sempre que participo de entrega de carteiras, vejo um número maior de mulheres se juntando à Ordem e muitas delas se mostram bastante preocupadas com o inchaço do mercado", afirmou Amanda. "Mulheres advogadas e, em especial, jovens mulheres advogadas, são consideradas grandes ameaças por parte dos donos de escritórios. Há inúmeros empecilhos para a ascensão, e um grande obstáculo é o assédio. Tivemos uma grande vitória, que foi o inciso 30 do nosso Estatuto da Advocacia, que classificou o assédio sexual como uma infração ético-disciplinar".

Ao falar de oportunidades, a presidente da OAB Jovem realizou uma rápida dinâmica de grupo com o auditório, pedindo a todos que se apresentassem às pessoas ao lado, revelando sua área de atuação e contatos nas redes sociais. Amanda - que participou da elaboração do Provimento 205/2021 do Estatuto da OAB- destacou a necessidade de se explorar o campo permitido para a publicidade na advocacia.

Bastante aplaudida pela plateia do Theatro Municipal, Lázara Carvalho destacou a necessidade de uniões e alianças entre as mulheres.

"Justiça é uma palavra feminina", afirmou Lázara. "E precisamos entender que somos corpos políticos, porque 'política' também é uma palavra feminina. Somente através da movimentação de nossos corpos políticos é que conseguiremos ultrapassar os obstáculos e mudar a sociedade, que, por acaso, também é uma palavra feminina. Muitas das palavras que usamos constantemente são femininas, mas 'poder' é sempre colocada no masculino. Todos nós somos capazes, então, não nos falta poder. O que nos falta é outra palavra masculina: acesso. Faltam alianças com os homens, mas elas só poderão dar certo se tivermos alianças entre nós, como os patos selvagens, que voam em forma de V. Isso nos diz muito sobre liderança. Alguém está na ponta, quebrando a resistência do ar. Eventualmente, você, que está na formação, terá sua vez na ponta".

Prates, que também é assessora da Diretoria de Igualdade Racial na Pasta de Pessoas com Deficiência da OABRJ, falou dos entraves impostos pela deficiência visual.   


"A cegueira ainda é vista como a mais grave das deficiências", afirmou Prates. "O mercado de trabalho para nós é zerado, e a prova disso é o fato de haver um projeto de lei, que está agora na Comissão de Constituição de Justiça, que incentiva as sociedades de advocacia a contratarem advogadas e advogados com deficiência para cargos também da parte administrativa. A alma do projeto é muito bacana, mas ele causa constrangimento ao ignorar a Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência que tem status de emenda constitucional. Não basta uma advocacia que não seja capacitista. É preciso ser anticapacitista".


Falando sobre as oportunidades no mundo digital, Ana Amélia Menna Barreto falou da virtualização do universo jurídico. 

"Hoje, vivemos um cenário de enorme transformação digital, no qual a sociedade mudou e migrou para o digital, e o Direito tem que acompanhar essa mudança", afirmou Ana Amélia. "O ambiente digital é vasto e cheio de problemas que exigem um atendimento especializado. Além disso, ele dialoga com todas as áreas do Direito. Essas mudanças e a chegada do digital também nos abrem diversas portas, como redigir normas e políticas dentro do ambiente empresarial. Nos dias de hoje, a advogada que não for pontocom, será um ponto morto".

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