05/09/2024 - 11:06 | última atualização em 05/09/2024 - 12:43

COMPARTILHE

OABRJ promove audiência pública sobre litigância predatória

Procuradoria da Seccional abrirá canal de denúncias para apoiar colegas que tenham sido acusados da prática pelo Judiciário

Biah Santiago





As comissões da Justiça do Trabalho e de Defesa do Consumidor da OABRJ promoveram, nesta quarta-feira, dia 4, uma audiência pública sobre litigância predatória, que suscitou um debate produtivo, com participação da plateia, sobre o impacto da acusação de excesso de judicialização que recai sobre a advocacia, afetando, principalmente, colegas das áreas trabalhista e consumerista. 

Assista à transmissão, na íntegra, pelo canal da Seccional no YouTube.

“Este é um tema caro para a advocacia, que vem sendo atacada sucessivamente sob esse pretexto de litigância predatória. Tivemos, por exemplo, os ataques na época da Operação Lava Jato que criminalizavam a classe e os por parte da mídia, que não entende a missão da advocacia pela defesa da ordem jurídica e pelo devido processo legal”, comentou Basilio.



“Essa prática fica mais grave na Justiça do Trabalho e na área do consumidor. Os juízes têm usado essa ferramenta para tirar a credibilidade da advocacia e para atacar o que  chamam de excesso de judicialização. Essa iniciativa é perversa e desvirtua os fatos, porque os maiores procrastinadores e litigantes no Brasil são o Estado, o município e a União, que violam direitos da sociedade”.

A vice-presidente da OABRJ anunciou que será criado pela Procuradoria da Seccional um observatório para averiguar decisões dos tribunais - a nível estadual - que use o termo ‘litigância predatória’ ou expressão similar nos processos judiciais. A iniciativa manterá aberto um canal de denúncias para colegas informarem quando isso acontecer. 

“Criaremos, pela Procuradoria, um canal de denúncias para os advogados e as advogadas que, porventura, sejam acusados de litigantes predatórios, sinalizarem essa questão à OABRJ. Além disso, iremos ingressar como amicus curiae em todos os processos em que houver esse tipo de acusação contra os colegas. A Comissão de Justiça do Trabalho apresentará uma impugnação sobre a nota técnica sobre lide predatória no TRT1 [Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região]”, disse Basilio.

Também compuseram a mesa de abertura a secretária-adjunta da OABRJ, Mônica Alexandre Santos; o tesoureiro, Fábio Nogueira; o presidente do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da Seccional, Carlos Alberto Direito; e o secretário nacional do Consumidor e ex-presidente da OABRJ, Wadih Damous.

Mônica questionou as violações sofridas pela advocacia.

“Por que querem fragmentar a justiça social?”, questionou. “A Justiça do Trabalho é uma justiça social, o direito do consumidor é um direito social, então por que bater nesses dois ramos do Direito que dão à sociedade acesso à justiça?”.

O secretário Nacional do Consumidor ressaltou os obstáculos sofridos pela advocacia consumerista e no ramo do Trabalho.


“Desde que a advocacia foi concebida na sociabilidade humana, o papel do advogado e da advogada sempre foi alvo de incompreensão e de ataques nas mais diversas conjunturas e épocas, e agora não seria diferente, mas, para nos defender, existe a Ordem dos Advogados”, considerou Wadih.



“A advocacia é uma atividade profissional regulamentada, e compete à Ordem fiscalizar e coibir a prática da litigância predatória. Na Senacon, só me cabe saber se as empresas estão cumprindo o que determina o Código de Defesa do Consumidor. O que acontece hoje é que a Justiça do Trabalho é uma justiça impotente para cumprir com a sua missão, e esses ataques ao Direito do Trabalho e do Consumidor obedecem a uma programação ideológica neoliberal. Se as empresas cumprissem os seus papéis, teríamos uma Justiça eficiente”.

As palestras provocaram discussões sobre o que a acusação de litigância predatória acarreta na profissão e a constante hostilidade sofrida por colegas, acusados de serem fraudulentos ou abusivos na apreciação de processos judiciais com a intenção de prejudicar algum outro advogado do mercado de trabalho.

Os palestrantes do primeiro painel foram o procurador-geral da OABRJ, James Walker; o presidente da Comissão de Prerrogativas da Seccional, Rafael Borges; a  juíza do Trabalho e presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 1ª Região (Amatra1), Daniela Muller; o advogado e professor Ivan Garcia; e o procurador do Ministério Público do Trabalho Cássio Casagrande.

O segundo painel foi comandado pelo presidente da Comissão de  Defesa do Consumidor da OABRJ, Tarciso Amorim; o presidente da Comissão Especial de Defesa do Consumidor do Conselho Federal da OAB, Walter Moura; o defensor público Eduardo Chow; o promotor de Justiça, assessor da Secretaria-Geral de Planejamento Institucional do Ministério Público Sidney Rosa da Silva Junior; e o procurador nacional de Defesa das Prerrogativas da Advocacia do CFOAB, Alex Sarkis.

“O ideal de Justiça, de forma ampla, é que o processo seja utilizado de forma ética na aplicação do Direito. Isso é muito bonito na teoria, mas, na prática, precisamos destrinchar quais são as fronteiras onde isso não é mais observado ou há uma violação geral”, comentou a juíza Daniella Muller.

“Essa problematização do manejo do processo judicial foi identificado há muito tempo. O CNJ, em 2020, lançou a Resolução nº 349, o ministro Luís Roberto Barroso sempre toca nessa questão no STF e o TRT1 publicou, em 2023, a Nota Técnica nº19. Isso já aponta que o tema está no radar dos responsáveis pelas políticas públicas judiciárias e que tem demandado desses atores uma atuação mais concreta”.

Abrir WhatsApp