28/09/2021 - 08:19 | última atualização em 29/09/2021 - 18:04

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OABRJ concede a Medalha Raymundo Faoro ao advogado Sergio Bermudes

Felipe Benjamin


O advogado Sergio Bermudes, um dos maiores nomes da advocacia nacional, recebeu nesta segunda-feira, 27, a Medalha Raymundo Faoro, maior honraria concedida pela OABRJ, e tornou-se membro vitalício do Conselho Seccional da entidade. A cerimônia de entrega foi realizada no Plenário Evandro Lins e Silva, na sede da Ordem.

Criada em 2008, a Medalha Raymundo Faoro é concedida uma vez por mandato a advogados e advogadas que se destacam na profissão e prestam relevantes serviços à Justiça e à sociedade. O nome de Bermudes foi aprovado de forma unânime pelo Conselho Pleno da OABRJ, durante sessão realizada em junho. 

Luciano Bandeira agradeceu ao homenageado por sua trajetória na advocacia. “Estamos homenageando um colega e tenho certeza de que ele fica feliz de ser tratado assim: como um advogado”, afirmou o presidente da OABRJ.

“Essa medalha representa tudo o que esperamos de um advogado e Sergio construiu uma carreira nacional e internacional, na qual teve a oportunidade e trabalhar lado a lado com Raymundo Faoro. Ele tem a tenacidade e o brilho da vida nos olhos e, por isso, é um orgulho para todos nós. Em seu escritório, uma verdadeira escola, Sergio formou advogados e advogadas que atuam inspirados pela sua trajetória. Apaixonado pela vida, Sérgio venceu a covid após quatro meses em coma, e ao voltar ao escritório, brincou, dizendo ‘ano passado eu estive morrendo, mas voltei'. Sérgio, muito obrigado por existir, por advogar e por representar tão bem o espírito da advocacia brasileira. Viva Sergio Bermudes”.

Bermudes fez um emocionante discurso, no qual agradeceu aos presentes pela homenagem.

“Essa cerimônia marca, por assim dizer, a minha ressurreição, já que estive durante um ano e dois meses hospitalizado em função dessa desgraça que se abate sobre a humanidade, quatro deles, em estado de coma”, relatou o advogado.

“Essa medalha não é uma homenagem somente ao advogado que leva seu nome, mas é também uma homenagem que a OAB presta, paradoxalmente, a si mesma, ao reconhecer o cumprimento da missão que levou à sua criação e a colocou à frente da luta da sociedade brasileira pela soberania nacional, pela defesa das instituições e pelas prerrogativas dos advogados, direitos que fazem da advocacia instrumento essencial da administração da Justiça, como proclama a Constituição da República no seu artigo 133”. 


Compuseram a mesa da solenidade os presidentes do Conselho Federal da OAB, Felipe Santa Cruz, e do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), Rita Cortez; a vice-presidente da OABRJ, Ana Tereza Basilio; o advogado Márcio Vieira Souto; e o conselheiro federal da Ordem Marcelo Fontes.

“O que posso fazer aqui, mais do que ser didático e falar sobre a biografia de Sergio Bermudes, é agradecer em nome da advocacia brasileira”, assinalou Felipe Santa Cruz.

“A advocacia brasileira deve agradecer a Sergio, e esse agradecimento vem, primeiramente, dos corredores da PUC e da advocacia do Rio de Janeiro nas gerações que foram tocadas pela força e pela inspiração que sua presença inspirou. Faço outro agradecimento, desta vez de maneira pessoal, por sua luta no caso Vladimir Herzog. A Ordem dos Advogados tem uma natureza especial porque temos a obrigação de lutar, e se for o caso, morrer pela democracia brasileira. A geração de Sergio Bermudes tem eternamente a nossa gratidão porque esteve disposta a provar, em inúmeros casos, que a coragem do advogado exclui de seus cálculos o benefício pessoal. Que exemplo mais candente disso há que este homem que homenageamos hoje? Que se dedicou à causa que repactuou as relações no Brasil e que serve de marco para o reconhecimento da tortura e do assassinato sob o manto das autoridades brasileiras?", enfatizou Felipe. 

O presidente do Conselho Federal completou seu discurso destacando a relação de Bermudes com o Rio de Janeiro.

"As últimas décadas foram muito difíceis para a advocacia do Rio de Janeiro, mas se há algo de que o estado tem orgulho, é da sua capacidade de se reinventar por meio de suas cabeças, e se há alguém que se encaixa nessa ideia é este homem nascido no Espírito Santo, mas mais carioca que todos nós. Foi aqui no Rio de Janeiro que Sergio Bermudes transformou seu escritório numa escola para a advocacia deste estado. Esta medalha e quaisquer outras que você receba estarão sempre em muito boas mãos”.

Ex-aluno, colega de escritório e sócio de Bermudes, Marcelo Fontes, falou sobre sua relação com o homenageado.

“Falar sobre Sergio Bermudes para mim é motivo de orgulho”, afirmou o conselheiro federal. “Levo comigo o prazer de conviver com ele há quase quatro décadas. Em 1978, ele tomou certamente a decisão mais corajosa de sua vida: desafiou o regime militar. Naquele processo não se postulou a declaração do assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Foi-se além. Pretendeu-se eviscerar a prática da tortura pelo aparato estatal. Foi um marco na história da Justiça brasileira, com consequências que transcendem o próprio caso e adquirem caráter exemplar. Sergio seguiu a lição de Sobral Pinto, que dizia que ‘a advocacia não é profissão de covardes’. Coragem nunca faltou a Sergio, às vezes para certo receio de seus sócios. O Brasil, tão carente de grandes estadistas, não pode queixar-se de seus grandes advogados”.


O secretário-geral da OABRJ, Álvaro Quintão, o tesoureiro, Marcello Oliveira, e o presidente da Caarj, Ricardo Menezes, também prestigiaram a solenidade.

Estiveram na plateia os ministros Bruno Dantas e Walton Alencar Rodrigues, do Tribunal de Contas da União, e Marco Aurélio Bellizze, do Superior Tribunal de Justiça. Acompanharam igualmente a cerimônia Flávio Willerman, subprocurador-geral do Estado do Rio de Janeiro; Felipe Gonçalves, presidente da Associação dos Magistrados do Estado do Rio de Janeiro (Amaerj); Bruno Dubeaux, procurador-geral do Estado do Rio de Janeiro; Vanessa Ribeiro Martins, presidente da Associação Paulista dos Magistrados (Apamagis); o advogado Jackson Uchoa Vianna; e os desembargadores Luciano Rinaldi, André Gustavo Corrêa de Andrade e Benedicto Ultra Abicair.

Virtualmente, acompanharam  a solenidade Renata Gil, presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB); José Augusto de Araújo Noronha, ex-presidente da OABPR; e José Antônio Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal.

A Medalha Raymundo Faoro é batizada em homenagem ao advogado gaúcho membro da Academia Brasileira de Letras, presidente da OAB entre 1977 e 1979, e autor de "Os donos do poder". Antes de Sergio Bermudez, os homenageados foram o Decano do conselho da OABRJ, Marcos Bruno; o presidente do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da Seccional, João Baptista Lousada Camara; e o advogado Hermann Assis Baeta.     

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