29/01/2020 - 19:23 | última atualização em 29/01/2020 - 20:16

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OABRJ assiste a família do pedreiro morto no dia do aniversário durante operação policial em São Gonçalo

Clara Passi

A Comissão de Direitos Humanos da OABRJ está prestando assistência jurídica à família do pedreiro Jorge José Elias de Laia, morto com um tiro de fuzil perto da casa onde morava no bairro Jóquei Clube, em São Gonçalo, na última sexta-feira, 24, dia em que completava 61 anos. Eliane e Sara Carolina Pereira de Laia, de 33 e 26 anos, foram recebidos pelos advogados Rodrigo Mondego e Mariana Rodrigues nesta quarta-feira, dia 29, na Seccional.

“A partir de agora, a OABRJ vai acompanhar o inquérito e tentar migrar o caso para a Delegacia de Homicídios de Niterói. Levaremos o caso ao Grupo de Atuação Especializada em Segurança Pública  do Ministério Público (Gaesp) e acompanharemos a família nos depoimentos à polícia”, afirma Rodrigues. 

O idoso foi atingido na coxa por um projétil que saiu pela lateral da barriga quando desceu a rua onde morava para ligar uma bomba d’água, por volta das 18h, logo depois de ter recebido a família para comemorar o aniversário. Eliane e Sara Carolina refutam a versão dada pela Polícia Militar de que Jorge era um “criminoso” que portava “um revólver e dois rádios transmissores” quando foi morto (Leia abaixo a nota da PM divulgada pela imprensa). O caso foi registrado na 75ª DP.

Vizinhos relatam que policiais fardados atiraram cinco vezes de dentro de um carro descaracterizado que passava pela Rua Maria do Nascimento. Segundo a família, não havia tiroteio na região no momento do crime ao contrário do que afirmou a polícia. 

As testemunhas afirmam terem visto os policiais tirarem a luva que Jorge José usava para mexer no registro d’água e colocarem uma arma e  os rádios transmissores em sua mão quando ele agonizava. 

Sara Carolina afirma que foi impedida pelos PMs de socorrer o pai até que uma viatura chegasse, o que só aconteceu cerca de 40 minutos depois de ter sido atingido. Ela também foi impedida de acompanhar o pai, que foi levado ao Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. Apesar da proximidade da unidade de saúde, a viatura que transportava Laia levou cerca de meia hora para chegar ao destino, segundo as filhas.

Viúvo, Jorge José é descrito como trabalhador e benquisto no bairro. Criou cinco filhos e 11 netos sozinho e complementava a renda catando latinhas e ferro velho, que revendia num posto de reciclagem da região. 

“Estamos revoltadas. Meu pai não era bandido, era um homem honesto. Nada vai trazê-lo de volta, então queremos limpar o nome do pai, que ele morra como uma pessoa honesta que foi morta pelos policiais”, disse Eliane.

Nota da Polícia Militar sobre o caso

"A Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado de Polícia Militar informa que, na noite de sexta-feira (24/01), equipes do 7°BPM (São Gonçalo) em patrulhamento se depararam com alguns indivíduos em atitude suspeita na Comunidade do Seis Pedal, em São Gonçalo. Ao perceberem a chegada dos policiais militares, os criminosos realizaram disparos de arma fogo contra os agentes e houve confronto. Um criminoso ficou ferido e foi socorrido ao Hospital Alberto Torres. Um revólver e dois rádios transmissores foram apreendidos com ele. Ocorrência encaminhada à 75ª DP."

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