28/11/2014 - 10:07

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MPs de Brasil e Argentina criam equipe para investigar ditaduras

jornal O Globo

Após O Globo revelar no último domingo a existência de dossiês vistos como uma das principais provas da Operação Condor, regime de cooperação entre os governos ditatoriais do Cone Sul para perseguir opositores, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, assinou quarta-feira acordo de cooperação internacional com o Ministério Público argentino para criar a Equipe Conjunta de Investigação/Justiça de Transição. O objetivo é apurar os crimes cometidos pelos regimes militares dos dois países, sobretudo no que diz respeito à Operação Condor.
 
É a primeira vez que uma equipe conjunta de investigação é instituída na América do Sul. O grupo terá sedes no Rio de Janeiro e em Buenos Aires, e será composto por seis membros, três de cada país. Janot, na cerimônia para celebração do pacto entre os país, classificou o evento como "histórico":
 
"No âmbito da Justiça de Transição, no combate às graves violações de direitos humanos ocorridas no regime militar, aproveita-se a expertise que Brasil e Argentina já adquiriram em investigações dessa natureza. Porém, a experiência nessa equipe conjunta de investigação poderá servir, no futuro, de modelo para outras iniciativas em qualquer tipo de delito de caráter transnacional, como tráfico de drogas, armas, pessoas e animais, contrabando, evasão de divisas, lavagem de dinheiro", afirmou Janot.
 
Na série "Operação Gringo" publicada durante três dias pelo O Globo, foi revelado que militares brasileiros vigiavam estrangeiros e até autoridades diplomáticas que entravam no país, e dispunham informações fornecidas pelo governo argentino sobre "subversivos".
 
Os dois dossiês, além da lista nominal dos vigiados, trazem compilações de outros relatórios, explicações sobre os grupos brasileiros e estrangeiros monitorados, gráficos sobre o avanço e o recuo das esquerdas no Brasil e informação dos cerca de 130 monitorados, entre brasileiros, alemães, bolivianos, chilenos, americanos, italianos, soviéticos, venezuelanos e argentinos.
 
Os agentes vigiaram autoridades diplomáticas do Alto Comissariado das Nações Unidas (Acnur), que tiveram as entradas e saídas do país monitoradas, e os católicos da Cáritas. As duas instituições formaram a base da rede de solidariedade a cerca de 20 mil exilados das ditaduras latinas no período. Com a provável ajuda da repressão argentina, o escritório do Centro de Informações do Exército (CIE) no Rio chegou a infiltrar um informante nas fileiras montoneras, grupo de resistência à ditadura argentina, no Brasil.
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