08/04/2011 - 16:06

COMPARTILHE

Ministério da Justiça reeditará campanha de desarmamento

Ministério da Justiça reeditará campanha de desarmamento


Do jornal O Globo

08/04/2011 - O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, revelou ontem que o governo vai iniciar este ano uma nova campanha pelo desarmamento no Brasil. A declaração foi dada após o massacre de alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Em fevereiro, durante o lançamento do relatório "Mapa da Violência", o ministro disse que o desarmamento da população era uma das prioridades do seu ministério.

- Acho que temos uma cruzada pela frente. O Ministério da Justiça lançará uma campanha pelo desarmamento. Temos de lutar muito fortemente contra essa cultura do armamento, contra essa cultura que faz com que pessoas, muitas vezes fora de suas faculdade mentais, cometam esse tipo de atrocidade - afirmou Cardozo, após um evento na Paraíba.

De acordo com o ministro, os índices de violência caem no momento em que as campanhas de desarmamento ocorrem no Brasil. Ele comentou o que aconteceu no Rio de Janeiro:

- Não é mais necessário que crianças e pessoas morram dessa forma tão triste para que nós possamos aprender. É um momento muito triste. Todos nós, brasileiros, temos de nos solidarizar com essas famílias, com o povo do Rio de Janeiro - disse Cardozo.

Rio tem 581 mil armas ilegais

Segundo levantamento do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Armas, da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), o estado do Rio tem cerca de 581 mil armas no mercado ilegal, que estão com civis e criminosos. Em circulação, contando com as armas legais, são 805 mil. O número é resultado de trabalho feito pelos agentes do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) da Polícia Federal, que identificou 224 mil armas legais em posse de civis pesquisando nos arquivos da Delegacia de Armas e Explosivos (Dfae) da Polícia Civil do Rio.

Após a notícia do massacre de Realengo, o deputado conversou com a delegada Martha Rocha, chefe de Polícia do Rio, buscando respostas para o episódio:

- O que chama a atenção é como ele teve acesso às armas e à munição que usou para matar os colegas. O problema aqui não é o distúrbio, mas o acesso às armas, que e completamente inaceitável. Isso será trazido à CPI. Vamos pedir o rastreamento das armas e das munições para tentar saber como isso aconteceu. É completamente inaceitável esse acesso - afirmou.

O deputado federal Alessandro Molon (PT), que foi ontem na Escola Tasso da Silveira, disse que protocolou um pedido no Congresso para reativar a Subcomissão de Controle de Armas:

- Impressiona a quantidade munição dentro do colégio. Isso mostra a facilidade que o assassino teve a esse armamento - afirmou Molon.

Diante do massacre, a Polícia Federal anunciou ontem que passou a indeferir todos os pedidos de compras de armas no estado do Rio. As exceções serão apenas para pessoas que conseguiram comprovar a real necessidade de manter uma arma em casa. Pelo Estatuto do Desarmamento, é atribuição da PF dar autorização para porte e compra de armas em território nacional.

A decisão foi tomada pela equipe do delegado Anderson de Andrade Bichara, diretor da Delegacia de Repressão ao Tráfico Ilícito de Armas (Delearm) e referendada pelo delegado Nivaldo Farias de Almeida, superintendente interino da PF do Rio.

PF também investiga atirador

Segundo levantamento da PF, o autor do massacre, Wellington Menezes de Oliveira, usava duas armas: um revolver calibre 38, com numeração raspada, e um revólver calibre 32 que tem registro na Dfae - não era roubada, nem furtada. O dono do revólver morreu, mas seus parentes foram localizados e estão sendo ouvidos pelos policiais da Divisão de Homicídios (DH).

- Tivemos uma reunião aqui na delegacia e decidimos implantar o critério. Adotamos um padrão: vamos passar a indeferir os pedidos de comprar de armas no estado do Rio. O cidadão que compra arma para ter em casa, pensando em se proteger, acaba armando os criminosos. Pessoas como o homem que invadiu armado uma escola, matando crianças - afirmou Anderson.

A ação e a motivação de Wellington para invadir a escola e atirar nos estudantes passou a ser investigada também pela Polícia Federal. Peritos e agentes do setor de inteligência foram à escola e estão buscando respostas no computador usado pelo criminoso e que foi apreendido. A carta e a suposta influência que o atirador sofria de religiões islâmicas estão sendo objeto de atenção. Um grupo de agentes está rastreando o conteúdo de correspondências e todo caminho que Wellington percorreu na internet, levando em conta sites acessados e seus principais contatos na grande rede.

Um relatório da CPI do Tráfico de Armas na Câmara dos Deputados, enviado a membros da CPI, revela que 86% das armas usadas por criminosos no estado do Rio têm origem legal: 68% foram vendidas por empresas brasileiras para lojas em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Niterói, Duque de Caxias, Nilópolis, Campos e São João do Meriti, além de outras em São Paulo, Assunção e Pedro Juan Caballero, no Paraguai. As demais 18% foram compradas pelo poder público e desviadas para o crime.

Os dados estão em documento elaborado pela CPI, a partir da análise de informações enviadas pelos fabricantes brasileiros. Foi feito o rastreamento de 10.549 armas apreendidas pela polícia do Rio, de 1998 a 2003, todas envolvidas em situação ilegal ou de delitos: 74% foram compradas por pessoas físicas; 25%, vendidas para empresas de segurança privada, transportadoras de valores e departamentos de segurança de empresas privadas; 0,6% saiu de lojas para órgãos do Estado; e 0,3% foi vendida para outras pessoas jurídicas.

Abrir WhatsApp