07/01/2016 - 11:18

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Milícia leva 'know-how' para bandos de outros estados

jornal O Globo

A transferência para penitenciárias federais de milicianos presos no Rio facilitou a transmissão do seu know-how para criminosos de outros estados. A constatação é do Ministério Público, que investiga a atuação das milícias na Zona Oeste desde 2006. Segundo o promotor Luiz Antônio Ayres, de Santa Cruz, graças a informações passadas durante visitas aos presidiários, a maior milícia do Rio "exportou" seu modelo de atuação criminosa para grupos de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul. É nesses estados que estão presos, em unidades federais, os chefes da quadrilha.
 
"A investigação sobre essa milícia começou em 2006. No ano seguinte, conseguimos prender parlamentares e policiais ligados a ela. Desarticulamos o grupo momentaneamente, mas ele voltou em 2010, de forma discreta. Agora, eles diversificaram seus negócios de maneira impressionante. Estão fazendo "segurança" até para motéis e canteiros de obras (de conjuntos habitacionais erguidos pelo governo federal)", contou Ayres.
 
Nos últimos três anos, os milicianos passaram também a ocupar os imóveis do programa Minha Casa Minha Vida, da União, conforme levantamento feito pelo GLOBO em setembro de 2014. Na ocasião, a reportagem revelou que grupos paramilitares atuavam em 36 municípios do Estado do Rio. De acordo com as investigações, uma milícia da Zona Oeste seria ainda dona de um hotel em Santa Cruz.
 
Reuniões em motel
 
Já que optaram por agir de maneira mais discreta, os milicianos teriam trocado bares e escritórios por quartos de motéis para discutir seus negócios e dividir os ganhos. O promotor Marcus Vinícius Leite, de Campo Grande, foi quem descobriu o novo esconderijo: "Sabemos que eles estão usando outros locais para se reunir e não chamar a atenção. Um miliciano, um dos maiores matadores do grupo, tinha uma suíte fixa num motel de Campo Grande para gerenciar seus negócios, mas nós descobrimos o esconderijo".
 
Ayres disse que as investigações do MP têm como objetivo quebrar o braço financeiro da milícia. Como os milicianos são, em sua maioria, agentes da área de segurança, conhecem os pontos fracos das instituições.
 
"A nossa grande dificuldade é a falta de coragem das pessoas para fazer denúncias. E elas têm razão, pois muitos milicianos são policiais da ativa", afirmou o promotor.
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