01/09/2008 - 16:06

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Lula recebe Mendes para discutir medidas contra escuta ilegal

Lula recebe Mendes para discutir medidas contra escuta ilegal

Do jornal O Globo

01/09/2008 - Sob pressão do Judiciário e do Legislativo por uma resposta às denúncias de grampos clandestinos supostamente feitos pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe na manhã desta segnda, dia 1º, em reunião de emergência, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, um dos alvos da escuta ilegal. O comando do governo silenciou durante os últimos dois dias e só hoje, depois do encontro com Gilmar e de reunião da coordenação política, com o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Jorge Félix, o presidente deve se pronunciar publicamente.

"Até o fim do dia, alguma mudança deve ser anunciada. Afinal de contas, é o presidente do Supremo", disse o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

A avaliação feita ontem por integrantes do Planalto é que o governo perdeu o controle de supostas ações de arapongagem da Abin. No Planalto, uma das versões é que Lula e outros membros do governo podem ser também vítimas de escutas ilegais.

Nos últimos dias, Lula chegou a ser alertado por auxiliares sobre a possibilidade de monitoramento ilegal até mesmo dos ramais do gabinete presidencial.

Cresceu o desconforto no núcleo do governo com o flagrante da revista "Veja", que divulgou no fim de semana a transcrição de conversa grampeada entre Gilmar Mendes e o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

A percepção é de que o STF, o Congresso e o Executivo transformaram-se em alvo da disputa entre setores da Abin e da Polícia Federal. Segundo um interlocutor de Lula, é grande o incômodo do presidente com a atuação do diretor-geral da Abin, Paulo Lacerda.


"Isso não pode ficar sem resposta"

A desconfiança de que até Lula pode ser alvo de arapongagem cresceu no fim de semana, com a informação de que os ministros José Múcio e Dilma Rousseff (Casa Civil), além do chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, também teriam sido grampeados pela Abin. Lula deve determinar ao general Jorge Félix uma apuração interna sobre a grampolândia instalada em Brasília.

"É um absurdo o fato de o presidente do Supremo ter sido grampeado. Isso não pode ficar sem resposta. Isso é muita afoiteza. É preciso saber de onde partiu essa ação. Lamento que essa situação tenha chegado neste ponto. Estamos debaixo de um grande tiroteio que não é nosso", disse Múcio, sem citar a guerra entre PF, Abin e Judiciário. Ele comentou o fato de ser um dos alvos: "Nada do que conversei ao telefone me preocupa. Mas é horrível ter sua vida privada bisbilhotada".

Segundo dois interlocutores do presidente ouvidos ontem, a situação de Lacerda é delicada, principalmente depois que ele disse à CPI do Grampo que não havia escuta ilegal. No Planalto, a avaliação é que há um núcleo paralelo de inteligência na Abin desde que Lacerda deixou o comando da PF e entrou no órgão, apesar de ele ter negado isso em seu depoimento.

Alencar diz que escuta é abominável

Houve forte contrariedade no gabinete presidencial com a participação de agentes da Abin na Operação Satiagraha, da PF, no que foi considerado um desvio de função. Já na ocasião, no Planalto, houve suspeita de escutas no governo. Nos grampos da Satiagraha há conversas entre o secretário particular de Lula, Gilberto Carvalho, com o advogado e ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). O Planalto foi surpreendido com a divulgação do diálogo pela imprensa.

Apesar da crise, o Planalto não divulgou nota. O vice-presidente José Alencar disse ontem, em visita à Expointer, feira agropecuária em Esteio (RS), que considera "abomináveis as escutas de qualquer natureza". "Temos que dar um jeito de acabar com essas escutas".

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