Mostra gratuita, que fica em cartaz até 23 de dezembro, traz 88 imagens publicadas no jornal, que circulou até 1974 e fez história na imprensa nacional Clara Passi No ensaio Vida e morte do ‘Correio da Manhã’, publicado em O leitor apaixonado (Companhia das Letras, 2009), coletânea de textos de Ruy Castro sobre literatura, o autor faz um longo inventário das glórias do diário carioca, um dos mais respeitáveis periódicos da imprensa diária de grande circulação do país, que atingiu tiragens superiores a 200 mil exemplares em seus melhores momentos e foi berço da carreira de repórter de Castro, em 1967. Durante os anos em que circulou, de 1901 a 1974, abrigou, na redação da Avenida Gomes Freire, no coração da Lapa, Carlos Heitor Cony, Antônio Callado, Jânio de Freitas, Otto Maria Carpeaux, Sérgio Augusto e Paulo Francis, para citar alguns gigantes do jornalismo nacional. Carlos Drummond de Andrade ainda era o cronista (sob as iniciais C.D.A.) e Nelson Rodrigues estava escrevendo suas memórias no Segundo Caderno. Antes de se perder nas reminiscências da época de foca (jornalista iniciante), Castro decretou: “Os jornais, quando morrem, não vão para o céu. Sobrevivem por algum tempo nos corações e mentes de seus leitores, mas, com os anos, esse amor e memória coletivos vão se dissolvendo”. Pois a historiadora Maria do Carmo Rainho, que atua há 30 anos no Arquivo Nacional, está dando sua contribuição para a perenidade da memória do veículo ao montar a exposição inédita e gratuita Correio da Manhã: uma revolução de imagens nos anos 1960, em cartaz na Caixa Cultural até o dia 23 de dezembro. A exposição é uma ode ao fotojornalismo, num momento em que a imprensa escrita sofre profundas mudanças e até ameaças por parte do presidente eleito, Jair Bolsonaro. "Espero que a exposição nos lembre dos perigos de um país que não se preocupa com a preservação da sua memória e do seu patrimônio" Maria do Carmo Rainho curadora “É um libelo a favor da liberdade de expressão, a resistência em tempos difíceis. A importância da exposição é nos mostrar como a cobertura fotográfica do jornal nos permite pensar sobre esta época tão rica em termos de cultura e comportamento e tão violenta no que tange à política, sobretudo no momento atual quando tantos defendem a ditadura ou se referem a ela como algo menos grave do que efetivamente foi”, diz Rainho à Tribuna do Advogado. “Se o Correio não tivesse produzido estas imagens, com certeza nossa memória sobre os anos 1960 no Brasil seria bem mais pobre. Isso reitera a questão do papel da imprensa e da relevância das fotografias que, podem sim, ser protagonistas das coberturas jornalísticas” Num esforço hercúleo, a curadora selecionou 88 imagens guardadas no acervo do Arquivo Nacional - são mais de 1 milhão, abrangendo um período entre os anos 1930 e o início da década de 1970. Em sua maioria, contudo, são fotografias dos anos 1950 e 1960. Dividiu-as as em cinco módulos: A política em pauta, Pelas ruas do Rio, A moda e as políticas do corpo, O Correio na Copa (registros da primeira cobertura internacional de uma Copa do Mundo, da Inglaterra, em 1966, realizada pelo jornal) e Arte e resistência. São registros dos principais acontecimentos da vida pública do país numa década em que o país mergulhou numa ditadura e a contracultura galvanizou mudanças comportamentais mundo afora. O Correio, que já era conhecido pela qualidade dos textos, destacou-se na época também pela atenção dada à fotografia. Ousou com grandes ensaios fotográficos em que o texto era coadjuvante e, nas páginas dos cadernos de esportes, moda e cultura, editoriais quebraram a rigidez do padrão figurativo que vigorou por décadas na imprensa, com ângulos e cortes inusitados para a época, iluminação especial, técnica apurada e grandes ampliações. “Ler sobre o Correio e conversar com os remanescentes do jornal além de reiterar para mim a sua importância na luta contra a ditadura militar, a coragem de seus jornalistas e fotógrafos e o pulso firme de sua diretora Niomar Moniz, que bancou essa postura do jornal”, conta ela. “Espero que a exposição nos lembre dos perigos de um país que não se preocupa com a preservação da sua memória e do seu patrimônio. O fato dessas imagens estarem tão bem conservadas no Arquivo Nacional, uma instituição pública do governo federal, evidencia a importância de se investir na manutenção dessas entidades e no estímulo à pesquisa e à produção do conhecimento”. SERVIÇO Exposição Correio da Manhã: uma revolução de imagens nos anos 1960 Local: CAIXA Cultural Rio de Janeiro – Galeria 4 (Endereço: Avenida Almirante Barroso, 25 - Centro - Metrô e VLT: Estação Carioca) Visitação: Até 23 de dezembro de 2018 Horário: de terça-feira a domingo, das 10h às 21h Entrada franca Classificação indicativa: Livre para todos os públicos Acesso para pessoas com deficiência Informações: (21) 3980-3815