03/09/2018 - 17:37 | última atualização em 03/09/2018 - 17:51

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Evento da Cevenb relaciona doença falciforme ao racismo

redação da Tribuna do Advogado

         Foto: Lula Aparício  |   Clique para ampliar
 
Clara Passi
Denúncia e emoção deram o tom à abertura do evento Reparação da escravidão e doença falciforme - ações para uma assistência à saúde de qualidade, promovido pela Comissão de Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil (Cevenb) da OAB/RJ, na manhã desta segunda-feira, dia 3, na sede da entidade. Com ampla programação, o simpósio se estenderá até amanhã, com palestras de especialistas programadas das 9h às 19h nos dois dias (confira aqui a programação completa).
 
Para abordar o mal de origem genética e hereditária, predominante em negros e com maior incidência nos estados de Bahia, Minas Gerais e Maranhão, a Cevenb teve apoio do Ministério da Saúde, da Federação Nacional de Associações de Pessoas com Doença Falciforme (Fenafal), da Equipe de Humanização do Hemorio e da Associação de Falcênicos do Estado do Rio de Janeiro.  A transmissão está disponível no canal da OAB/RJ no YouTube.
 
A desembargadora e diretora da Comissão de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, foi mestre de cerimônia. Representaram a Cevenb a 1ª secretária Flávia Pinto Ribeiro, Berenice Aguiar e Joyce Alves Rocha. A secretária da Cevenb da OAB Nacional, Silvana Niemczewski, e a presidente da Associação de Falcêmicos e Talassêmicos do Rio de Janeiro, Zaira Costa, completaram a mesa. 
Foto: Lula Aparício |   Clique para ampliar

O incêndio do Museu Nacional na véspera, que destruiu Luzia, o fóssil humano mais antigo encontrado na América, foi lamentado por Niemczewski. A advogada sublinhou o fato de Luzia ter sido também uma mulher negra.
 
“Estamos falando de uma doença que é tipicamente do negro, mas que pela nossa miscigenação também está sendo encontrada no branco. Não queremos apartheid, mas andar ombro a ombro com os brancos”, afirmou Niemczewski.
 
Num discurso enfático, a psicoterapeuta Zaira Costa expressou esperança de que o evento produza propostas concretas para melhorar o amparo aos pacientes desta doença no SUS. Ela citou como prioridades a necessidade de descentralização do atendimento, já que o Hemorio é o único centro de referência no estado; a criação de uma política nacional de segurança do paciente visando a diminuir as mortes provocadas por erro médico (segundo dados citados por ela, esta é a causa mais comum dos óbitos) e a urgência de se implantar um protocolo de humanização do atendimento para conter o que ela chamou de “racismo profissional”.
 
“Às vezes, o profissional de saúde, que também é negro, atende o doente de forma discriminatória. Já vi isso acontecer inúmeras vezes. Os profissionais de Direito precisam se atentar para isso”.
 
Foto: Lula Aparício |   Clique para ampliarCaetano retrucou: “Não aceito racismo nem do negro nem do branco. No branco não é desculpável, mas no negro é. Ele não é racista, é produto daquilo que lhe foi imposto”.
 
Muito emocionada, Rocha falou sobre o motivo que a levou a abraçar a causa: seu sobrinho, Caleb, é portador do mal que faz com que os glóbulos vermelhos fiquem deformados e se quebrem, causando, entre outros sintomas, tonalidade amarelada nos olhos, atraso no desenvolvimento, edema nas articulações e aumento no fígado.
 
“Quero dedicar esses dois dias de evento a ele e à minha irmã. Foi esse pequeno guerreiro o estopim para estarmos aqui hoje reunidos, foi ele quem abriu meus olhos para a relação da doença falciforme com o racismo”, disse ela. 
 
“Ela não deve ser vista só sob a égide da saúde. É um fato social a ser enfrentado através da reparação da escravidão. Como pode, diante de sua grande penetração e gravidade, falar-se tão pouco sobre ela? É porque quem sofre são pretos e pobres. Por ele, me joguei nessa luta e encontrei ajuda da Cevenb”.
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