31/10/2011 - 16:10

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Deputado ameaçado voltará ao Brasil em menos de um mês

site da UOL

Após receber sete ameaças de morte nos últimos 35 dias, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), 43, viajará para fora do Brasil com a família nesta terça-feira, dia 1º, a convite da Anistia Internacional. O destino é a Europa, porém, por medida de segurança, o país não foi revelado. O retorno ao Brasil acontecerá no fim de novembro. "Minha saída é curta, voltarei logo. É apenas um tempo para os ajustes necessários para segurança. Fico menos de um mês fora", afirmou.

De acordo com o parlamentar, tido como um dos principais inimigos das milícias que atuam na capital fluminense, o período fora do país será utilizado para "preservar a família e ajustar a segurança". Freixo foi presidente da CPI das Milícias na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em 2008.

A comissão resultou no indiciamento de 225 pessoas, entre as quais políticos, policiais civis, militares, bombeiros, entre outros suspeitos de ligação com os grupos paramilitares que dominam comunidades, em especial na zona oeste do Rio.

Segundo Freixo, o período fora do país servirá para chamar a atenção do poder público para o fato de que as milícias constituem uma ameaça à democracia. "Esse não é um problema meu, não tenho um problema particular com as milícias. É uma questão de segurança pública", disse.

"As coisas não podem continuar assim, é necessário que o poder público dê uma resposta. Se eles [milicianos] são capazes de matar uma juíza [referindo-se ao assassinato de Patricia Acioli] e ameaçar um parlamentar, o que não estão fazendo no dia a dia das pessoas que não têm a mesma proteção?"

Há pelo menos dois meses, o parlamentar tem solicitado reforço em sua equipe de segurança, mas diz não ter sido atendido pelo poder público. Segundo ele, o risco sempre existiu, mas se tornou mais "intenso" após a morte da juíza Patricia Acioli, em agosto. O deputado foi notificado sobre as ameaças pelo serviço de inteligência da PM e pelo Disque-Denúncia.

O parlamentar argumenta que o combate às milícias só será possível se o poder público acabar com os "braços econômicos" desses grupos paramilitares. Ele questiona, por exemplo, as razões pelas quais a Agência Nacional do Petróleo possui apenas cinco fiscais para controlar a submissão do gás em todo o Estado (a distribuição de botijões de gás é uma das principais fontes de renda dos milicianos).

A Secretaria Estadual de Segurança Pública não se manifestou a respeito das ameaças recebidas por Marcelo Freixo, tampouco sobre a opção do deputado por deixar o Brasil.
Ameaça

Uma informação interceptada pelo serviço de inteligência da Polícia Militar indica que Carlos Ary Ribeiro, o “Carlão”, que integrava a cúpula da principal milícia do Rio, a Liga da Justiça, seria um dos interessados na morte de Marcelo Freixo. O ex-PM fugiu do Batalhão Especial Prisional (BEP) pelo vão do ar-condicionado, em setembro, e está foragido desde então.

O criminoso receberia R$ 400 mil pelo serviço, que seriam pagos pelo homem apontado como atual líder da Liga da Justiça, conhecido como Tony. O grupo paramilitar lucra cerca de R$ 2 milhões por mês com a cobrança de serviços clandestinos, entre os quais uma suposta segurança, a submissão de gás e a distribuição do sinal de TV por assinatura, entre outros.

Carlão responde criminalmente por seis homicídios e é acusado de outros dez - ele foi condenado a sete anos de reclusão por porte ilegal de arma e receptação.

Anistia

O primeiro contato entre Marcelo Freixo e representantes da Anistia Internacional ocorreu em 2009, ano em que o deputado viajou pela Europa a convite da organização para divulgar o trabalho da CPI das Milícias. O parlamentar esteve na Alemanha, Holanda, França, Espanha, Itália e Bélgica.

Em todos os encontros com acadêmicos, políticos e membros de órgãos de defesa dos direitos humanos, Freixo apresentou o trabalho de investigação da CPI das Milícias. Segundo ele, muitos europeus já se interessavam há dois anos em estudar a proliferação das milícias pela capital fluminense.
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