15/08/2019 - 14:06 | última atualização em 15/08/2019 - 14:54

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Crueldade da imposição de padrões de beleza pautam colóquio na OAB/RJ

Clara Passi

Dentro da série de colóquios que vem promovendo, a Comissão de Direito da Moda da OAB/RJ discutiu, na quarta-feira, dia 14, as formas como a indústria fashion é permeada pelo preconceito visual e por padrões restritivos de beleza física. O debate na Seccional organizado pela integrante do grupo Ana Paula de Paula foi enriquecido pelos pontos de vista diferentes das convidadas, que, cada uma à sua maneira, subverteram a imposição do modelo eurocêntrico e de magreza vigentes. 

A mesa foi composta pela presidente da CDMD, Deborah Portilho, pela diretora de Igualdade Racial da Seccional, Ivone Caetano, pela dona da grife de lingerie plus size G.grie, Allyne Turano, e pela figurinista e DJ Larissa Dias. 

Dias estava no metrô a caminho do trabalho quando uma mulher lhe fotografou sem autorização e compartilhou a foto nas redes sociais com comentários racistas sobre seu cabelo, que é crespo. O caso acabou ganhando repercussão na internet e na televisão. 

Ivone falou das raízes históricas da opressão ao negro, que se evidencia também na pressão que as mulheres sofrem, desde a mais tenra idade, para alisar o cabelo.

“Era uma maldade. Antes de surgirem cremes, algumas usavam soda cáustica, o que causava queda do cabelo”, contou ela.

Caetano afirmou que as conquistas sociais do movimento negro e a maior representatividade trouxeram a auto-estima que possibilitou que essa população entendesse que poderia usar, sem medo, o padrão de beleza negro, como o turbante ou o cabelo natural, por exemplo. 

“Se aqueles que haviam deturpado esses símbolos com orgulho e grandeza podiam, muito melhor nós”, disse ela, citando como exemplo a apropriação do turbante por Carmem Miranda, “mulher branca portuguesa que foi bem vista ao levar ao mundo a música africana”.

Já Turano falou das dificuldades que uma pessoa obesa sofre ao se deparar com macas de hospital com limite de peso e aparelhos de aferir pressão que não comportam a circunferência de seu braço. “Chega ao ponto de anestesistas orientarem a não engravidar por causa da dificuldade de se dosar anestesia sem a possibilidade de se tatear a coluna vertebral num corpo gordo”, lamentou.

“Defendo, como integrante do movimento 'Body Positive' que se tome posse do próprio corpo, que se faça o que quiser com ele. As pessoas acham que a pessoa gorda, sobretudo a mulher, é uma afronta porque não quis atender o que a sociedade esperava dela, que atinja padrões inatingíveis. Isto é: que esteja sempre de salto alto, vestido justo, seja branca, loura, de olho azul. No shopping, me é privado o direito de comprar uma roupa, já que conto nos dedos quantas lojas atendem uma pessoa gorda. Decidi abraçar a causa. Quantas mulheres perderam oportunidade de trabalho por não ter uma vestimenta apropriada?”, provocou ela, que segue o mesmo raciocínio na concepção das lingeries que vende.

“Nos depoimentos, há reflexões muito sérias a serem feitas em relação à sociedade”, afirmou Portilho.

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