19/09/2016 - 10:58 | última atualização em 19/09/2016 - 10:57

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Conscientização é o maior legado paralímpico, diz membro da OAB/RJ

site G1

A Paralimpíada 2016 chega ao fim neste domingo, dia 18, com sucesso de público. Mas, para quem entende do assunto, o legado dos Jogos poderia ser muito maior em termos de estrutura para as pessoas com deficiência.
Geraldo Nogueira, advogado e presidente da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência OAB/RJ, avaliou, a pedido do G1, a herança deixada pela Paralimpíada para a cidade.
 
"A conscientização do povo é o maior legado paralímpico, porque muita gente ficou sabendo o que estava acontecendo na cidade. O próprio empresariado vai pensar melhor ao receber um cliente, que pode ter deficiência. Em termos de acessibilidade, espero que as reformas sejam mantidas, mas esse é um ganho pequeno, já que só teve melhoria nas áreas perto dos jogos", indica Geraldo.
 
As calçadas da cidade continuam como o principal inimigo dos deficientes físicos, de acordo com Geraldo.
"A Prefeitura considera que está tudo bom porque cuidou dos acessos perto das arenas, mas perdeu uma grande oportunidade de cuidar da acessibilidade de uma forma mais ampla, principalmente em relação às calçadas, que continuam muito ruins. Não tem como pensar em locomoção, transportes, edificações, comércio, sem passar por uma calçada."
 
Barcelona como exemplo
 
Na avaliação de Geraldo, o legado perfeito seria se o Rio seguisse o mesmo modelo de Barcelona, que modificou boa parte da cidade por conta da Paralimpíada de 1992.
 
"Eles começaram com a preocupação de cuidar dar calçadas, colocar rampas. Inclusive, surgiu um movimento grande, na época, com conceito novo para a arquitetura em função dos Jogos Paralímpicos, que foi o movimento por desenho universal (que tem como princípio desenhar a cidade para uma maior gama antrométrica, pensando nas pessoas e suas variações de tamanho, peso, força, doença, deficiência e mobilidade). O Rio poderia seguir o modelo. Isso, sim, seria um ótimo legado", analisa.
 
O advogado explica que, antigamente, as cidades eram desenhadas para o "homem padrão", de 1,70 m de altura, com força mediana.
 
"Esse é o menor grupo dentro da sociedade, o maior grupo é formado por idosos, mulheres, gestantes, crianças, obesos, pessoas com deficiências, com dificuldades de locomoção. Esse homem padrão é o que tem menos dificuldade e a sociedade era projetada para ele. E muitas cidades ainda não se adaptaram."
 
Unificação dos Jogos
 
Considerado um líder nas causas que envolvem deficientes há mais de 20 anos, Geraldo é envolvido em projetos sociais, dá palestras sobre o tema e, agora, torce para que o movimento Unifica Jogos, Já!, do qual é um dos incentivadores, ganhe força nas redes sociais. O projeto pede a unificação dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, para que ambos aconteçam no mesmo período.
 
"Exatamente para dar mais visibilidade aos atletas deficientes. Na Paralimpíada, o preço dos ingressos é inferior, o público é diferenciado e muitas empresas oferecem ingressos gratuitamente. Isso não vai de encontro ao conceito de inclusão", analisa. Para o advogado, o esporte tem que ser integrado como a educação, que tem alunos com e sem deficiências estudando juntos.
 
"Querem inclusão e fazem jogos separados? Além disso, a Olimpíada é exibida 24h. Se os Jogos fossem juntos, a Paralimpíada pegaria carona da divulgação, ganharia mais força na mídia. Por que não colocar, por exemplo, um jogo de basquete de rodas antes ou depois de um jogo de basquete olímpico? Assim, aquele mesmo público teria a opção de assistir aos dois jogos no mesmo dia", sugere.
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