Clara Passi O número de roubos de cargas no Rio de Janeiro triplicou de 2011 a 2017, um crescimento de mais de 200%. Isso equivale a um crime deste tipo a cada 50 minutos. O prejuízo para a economia do estado é astronômico: a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) calcula perdas de R$ 607 milhões. As principais consequências dessa sangria são o aumento do custo das mercadorias, o risco de desabastecimento e a perda de empregos. Para refletir sobre esse panorama, a Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ e o Instituto Brasileiro de Direito e Criminologia (IBDC), com apoio do Sindilojas e da Associação Comercial do Rio de Janeiro, promoveram a Conferência Nacional na Prevenção e Combate ao Furto e Roubo de Cargas. O evento ocorreu no Salão Nobre da Seccional na manhã desta terça-feira, dia 27. “Do ano passado para cá, com o agravamento da crise na segurança pública, a OAB tem tido mais preocupação de trazer para dentro da casa essa pauta, que aflige a sociedade civil”, sublinha Renato Teixeira, vice-presidente da comissão. “O roubo de carga impacta negativamente o lucro das empresas e, consequentemente, a geração de empregos”. A revenda de produtos oriundos do saque a caminhões tornou-se uma das principais fontes de renda de quadrilhas de traficantes de drogas e motivo de terror de empresários, seguradoras e caminhoneiros que passam perto dos complexos do Chapadão, Pedreira, Costa Barros, Barros Filho e da Pavuna, áreas conflagradas da Zona Norte do Rio. A delegada Martha Rocha, deputada estadual pelo PDT, é presidente da Comissão de Segurança Pública da Alerj e uma das vozes mais ativas sobre o assunto. “O resultado financeiro dos saques é investido na compra de armas pelo tráfico. Os integrantes das quadrilhas estão mais jovens, tem de 18 a 22 anos. É preciso aplicar sanções mais duras ao receptor das mercadorias, como a perda do CNPJ”, diz Rocha, que entregou, recentemente, um relatório com 14 estratégias ao interventor federal, o general Walther Braga Netto. O presidente da Federação de Transportes de Cargas do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Rebuzzi, falou sobre as medidas tecnológicas que o setor vem adotando, como uma tela na carroceria dos caminhões que libera uma descarga elétrica não letal; aumento da blindagem e a presença de um motorista anjo, que trafegaria atrás do caminhão pronto para apertar um botão do pânico que o paralisaria em caso de interceptação. “Não é mais armamento que resolverá, mas estratégia”. E o que o consumidor pode fazer? Denunciar o comerciante ilegal ao Disque Denúncia e não comprar a mercadoria, ensinam os palestrantes. A mudança nos critérios das audiências de custódia também foram pontos comuns nas falas. “O juiz põe em prática o que está na lei. É preciso que se modifique a legislação. A policia prende, o suspeito vai para uma audiência de custódia e alguns são soltos. Todos os atores da segurança pública precisam dialogar, estar despidos de vaidade. Um juiz deve conversar com um delegado, por exemplo”, afirma o delegado da Polícia Federal Victor Poubel. O diretor do Instituto Brasileiro de Direito e Criminologia, Ubirajara Favilla, e representantes do Disque-Denúncia também participaram do evento.