27/02/2018 - 13:30 | última atualização em 27/02/2018 - 15:15

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Comissão promove evento sobre desrespeito às religiões de matriz africana

redação da Tribuna do Advogado

         Foto: Bruno Marins  |   Clique para ampliar
 
 
Vitor Fraga
“Esse ódio tão visível ultimamente, porque presente sempre esteve, não é nada mais nada menos que uma decorrência do preconceito racial”. A afirmação da diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, destacando a visibilidade cada vez maior do racismo na sociedade brasileira foi o principal ponto do evento realizado pela Comissão da Verdade da Reparação Negra no Brasil (Cevenb) da entidade nesta segunda-feira, dia 26 de fevereiro. Com o tema Intolerância religiosa? Racismo? Terrorismo? – Rompendo a invisibilidade do contexto de violência e desrespeitos aos povos de matriz africana, o encontro, que reuniu praticantes de religiões de matriz africana, representantes do poder público e advogados para debater a perseguição e violência sofridas por estes grupos, aconteceu no Plenário Evandro Lins e Silva, e foi transmitido pelo canal da Ordem no YouTube. 
 
Foto: Bruno Marins |   Clique para ampliar
O presidente da Cevenb, Humberto Adami, fez uma abertura breve e passou a palavra para Caetano, até hoje a única desembargadora negra a ocupar o cargo no Tribunal de Justiça. “Este evento trata exclusivamente e com muita visibilidade de um tema que me é muito caro. Poucas vezes falei que professo religião de matriz africana. Mas todas as vezes que o faço, é com muito respeito e muita honra. Não aceito desrespeito, palavras desqualificantes, brincadeiras em relação à minha religião”, afirmou ela. 
 
A diretora de Igualdade Racial também ressaltou o fato de o assunto estar sendo debatido na OAB/RJ, no atual momento. “Poucas vezes nos dão espaços desta qualidade para falarmos sobre nossa religião e sobre todos os ataques que ocorrem sobre ela. A Ordem tem tido nos últimos anos um protagonismo na luta pelos direitos humanos, principalmente abrindo portas para que possamos falar e nos defender de tudo o que até hoje acontece. Esse ódio tão visível ultimamente, porque presente sempre esteve, não é nada mais nada menos que uma decorrência do preconceito racial. Muitas religiões são professadas no Brasil, mas nenhuma é tão perseguida quanto às de matriz africana”, apontou. 
 
Foto: Bruno Marins|   Clique para ampliar
Além de Caetano e Adami, participaram da mesa de abertura a presidente da Comissão de Combate a Intolerância Religiosa, Guiomar Mairovitch; o vice-presidente da Comissão de Diretos Humanos, André Barros; e o presidente da Comissão de Direito e Liberdade Religiosa do Instituto dos Advogados Brasileiros, Gilberto Garcia. 
 
No início do evento foi realizada uma homenagem ao jornalista, advogado e militante do movimento negro Carlos Alberto Caó de Oliveira, falecido recentemente. Ele foi o autor da Lei 7.437/1985 (conhecida como Lei Caó), que tornou crime o preconceito de raça, cor, sexo e estado civil. Caó foi editor de economia do Jornal do Brasil, e presidiu o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Rio de Janeiro entre 1981 e 1984. Filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT), elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro em 1982, e licenciou-se do mandato para assumir o cargo de Secretário do Trabalho e da Habitação do estado. Foi exibido um vídeo com um trecho de uma entrevista de Caó dada ao ator e apresentador Lázaro Ramos. 
 
O encontro teve ainda duas mesas temáticas. Na primeira, o debate foi entre autoridades públicas e lideranças dos troncos de matrizes africanas Bantu, Jeje e Iorubá. A segunda mesa temática tratou da reparação por ações nacionais e internacionais em face da violência praticada contra religiões de matriz africana. Ao fim do evento, foi encaminhado à comissão um relatório com as conclusões do debate. 
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