06/10/2015 - 12:24

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Comissão da OAB entra na briga para obrigar prefeitura a salvar zoo

jornal O Globo

No espaço reservado aos cervos, os urubus são a atração. Já o local das aves, o "Viveirão", está interditado há mais de dois anos. Parecem não ter fim os problemas do jardim zoológico do Rio. No dia em que o jornal Extra registrou a penúria do estabelecimento e mostrou que o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública para obrigar a prefeitura a reformar o RioZoo, outras autoridades decidiram entrar na briga. A vereadora Teresa Bergher (PSDB) e o presidente da Comissão de Defesa dos Animais da OAB/RJ, Reynaldo Velloso, prometeram realizar novas vistorias.

"Faremos uma visita ao zoo na semana que vem com o objetivo de verificar os problemas e, a partir daí, decidiremos que tipo de providências vamos solicitar à prefeitura", diz Velloso, que critica a manutenção de animais em jaulas: "O ideal seria a criação de um santuário para eles. O zoológico precisa ser remodelado. Na inviabilidade disso, neste momento, tem que tratar bem os animais".
 
"O zoológico está deplorável, precisa de muitas melhorias. É uma maldade com os animais deixar a situação chegar a esse ponto", diz a vereadora, acrescentando que, além de vistoriar o local, vai pedir ao Tribunal de Contas do Município (TCM) uma inspeção no contrato das novas catracas.
 
O valor do aluguel, que era de R$ 11 mil por mês até 2014, pulou para R$ 33 mil mensais. A gerente Vanessa de Souza Fernandes, de 35 anos, escolheu o zoológico para comemorar seu aniversário, mas se decepcionou.
 
"É deprimente. Os animais parecem estar todos doentes. O bicho mais bem alimentado que vi aqui foi o urubu", lamentou ela.
 
Nas redes sociais, internautas se manifestaram após a publicação pelo Extra das fotos de um búfalo magro e debilitado.
 
"Que coisa horrível. Os animais estão de dieta? Isso é uma falta de respeito com os animais e com o público", escreveu Vera Garcia.
 
A internauta Rose Miranda disse que se emocionou ao visitar o zoo pela primeira vez no fim de semana. "Confesso que saí de lá com o coração partido. Os tigres e o urso pareciam dopados. Os veados estavam com aparência de maltratados e machucados, visivelmente fracos e abatidos. Lamentável".
 
Alta mortalidade de animais
 
O abandono do zoo não é de hoje. Há dez anos, mais precisamente em maio de 2005, a Secretaria de Controle Externo do TCM apresentou um relatório denunciando o alto índice de mortalidade dos animais no local. O número de óbito de répteis passou de 17, em 2003, para 67 em 2004. No mesmo período, a quantidade de mortes dos mamíferos foi de 45 para 56. O documento ressalta que, entre as espécies mortas naquele ano, pelo menos cinco estavam classificadas na lista oficial como sendo ameaçadas de extinção: macaco-de-cheiro, tamanduá-bandeira, cachorro-do-mato vinagre, mutum de penacho e jacu-de-alagoas.
 
A degradação do espaço vem refletindo também sistematicamente na redução do fluxo de visitantes. De acordo com a prefeitura, o local recebeu, de janeiro a agosto de 2014, 756.182 visitantes. No mesmo período deste ano, o número caiu para 707.059.
 
O prefeito Eduardo Paes foi procurado, por meio de sua assessoria de imprensa, para comentar a a precariedade do estabelecimento e a aparência debilitada dos animais. No entanto, as questões ficaram sem resposta. Em nota, a prefeitura informou que o processo licitatório das reformas do zoológico está na fase final e acrescentou que "encomendou um estudo de viabilidade da mudança do modelo de gestão do zoo do Rio, que pode ser concessão ou parceria público-privada. Concluído na semana passada, o estudo está sendo analisado pela secretaria ao longo deste mês".
 
A Secretaria municipal de Promoção e Defesa dos Animais, que organiza campanhas contra maus-tratos de animais, também foi procurada, mas a prefeitura informou que a atuação do órgão se restringe a animais de rua em situação de abandono.
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