31/03/2015 - 14:55 | última atualização em 06/04/2015 - 12:13

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Comissão Estadual da Escravidão Negra toma posse na OAB/RJ

redação da Tribuna do Advogado

Em clima de resgate histórico, entidades representativas do movimento negro lotaram o auditório da Seccional nesta segunda-feira, 30 de março, para prestigiar a posse da Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, que pretende levantar a história e a memória dos 350 anos de escravidão, e assim responsabilizar os beneficiados com o regime de exploração e buscar uma forma de reparação aos que ainda hoje sofrem as conseqüências do período.

Segundo o presidente recém-empossado e que também preside a Comissão de Igualdade Racial da Seccional, Marcelo Dias, o trabalho constituirá em audiências públicas em todo o Rio de Janeiro, visitas a terreiros e comunidades quilombolas, além de contato com as universidades. “A OAB/RJ será nossa casa, nosso ponto de encontro, para que mais pessoas possam vir e trazer irmãos para participarem. Ao final, produziremos um relatório completo do que foi esse período no Brasil”, afirmou. Ele lembrou também que a Comissão de Igualdade Racial completou cinco anos e nesse tempo pode representar e acolher muitos negros em situação de vulnerabilidade jurídica. “A Seccional tem compromisso com a comunidade negra”, ressaltou.

Representando o presidente Felipe Santa Cruz, o tesoureiro da OAB do Rio, Luciano Bandeira, colocou a Seccional à disposição da comissão. “Nós temos essa mancha na história e nunca tivemos um movimento que tenha sido abraçado pela advocacia como este. Orgulha muito à Seccional do Rio de Janeiro esse trabalho que vai trazer importantes resultados e criar meios para apagar essa mancha na história”, disse.

O presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra do Conselho Federal, Humberto Adami, ressaltou que é preciso tirar o negro brasileiro da situação de cidadão de segunda categoria, que o negro precisa sair da base da pirâmide social do país e assumir posições de destaque. “As cotas são instrumentos importantes de ação afirmativa, mas ainda são muito pouco em relação ao apagamento da escravidão. Vamos aumentar a conta da reparação da escravidão negra no Brasil”, concluiu.

Para o procurador do trabalho Wilson Prudente é importante que o estado brasileiro reconheça que cometeu os crimes de escravidão. “O racismo é a maior manifestação da escravidão nos dias de hoje. Se não pudermos curar, pelo menos poderemos cicatrizar as feridas do passado”. O presidente da Caarj, Marcelo Oliveira, afirmou que a advocacia é uma profissão conservadora, mas que o empoderamento do negro pode construir um espaço de desenvolvimento na sociedade. “Assumo o compromisso de dar espaço e apoio necessário para essas pautas. Mas sei que muito dificilmente repararemos o que todo o povo negro sofreu”.

Ressaltando a dificuldade que a mulher negra tem ainda hoje na sociedade, por ser duplamente discriminada, a ativista Jurema Batista disse que é preciso quebrar o mito da democracia racial no Brasil. “A escravidão foi ruim para todo mundo, o racismo é ruim para todo mundo. Mas para as mulheres negras a escravidão foi perversa e ainda hoje o racismo é perverso. Nós somos vítimas de uma mídia que diz que nosso cabelo é ruim, nossa boca é grande e por isso somos piores. Mas isso não é verdade. Nós somos da medida certa”, completou.

Também estiveram presentes à mesa o desembargador federal André Fontes, o militante do movimento negro Carlos Alberto de Oliveira Caó e a vice-presidente da comissão, Sandra Machado.
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