12/12/2023 - 17:05 | última atualização em 14/12/2023 - 19:01

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Comissão de Direitos Humanos recebe Matheus Faustino, jovem agredido em Copacabana após ser confundido com ladrão

Episódio ocorreu no dia seguinte à convocação de ‘justiceiros’ para combater série de furtos na Zona Sul

Biah Santiago


O cenário de violência instaurado em Copacabana, na Zona Sul do Rio, atravessou a vida de Matheus Faustino na última semana. O rapaz, um jovem negro, de 23 anos, foi agredido com socos no olho, na quarta-feira, dia  6, após ser confundido com um ladrão por um garçom do bairro ao tentar vender balas para clientes dentro do restaurante. 

Nesta terça-feira, dia 12, a Comissão de Direitos Humanos e Assistência Judiciária (CDHAJ) da OABRJ, representada pela secretária-geral, Mariana Rodrigues, pelos procuradores Rodrigo Mondego e Leonardo Guedes, e pelos funcionários Marta Pinheiro e Paulo César, recebeu Matheus e seus familiares para ouvir os relatos sobre o episódio e prestar o atendimento jurídico necessário ao caso.

Morador de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade, Matheus narrou que viaja aproximadamente 60km por dia para trabalhar na venda de balas nos arredores de Copacabana. Segundo ele, no dia anterior ao ocorrido, ele havia visitado o restaurante e conseguido um prato de comida, “as pessoas já me conheciam no bar porque eu estou todo dia ali”.

“Estava trabalhando honestamente e desde que entrei para vender as balas a um casal, o garçom, um homem branco, queria me expulsar do restaurante. Quando ele me tocou, fui tentar tirar a mão dele do meu braço e aí ele me agrediu com um soco no olho”, contou Matheus. 


“Quero justiça. Sou trabalhador e faço isso pela minha família. Isso não pode ficar impune. Quero que ele [o agressor] seja responsabilizado, pois se tivesse sido eu que tivesse dado uma porrada nele, eu não estaria aqui contando isso e nem passaria o Natal e o Ano Novo com a minha família. Só porque sou preto, eu não posso me defender?”.



O jovem também relatou à comissão que o caso foi levado à 12ª Delegacia de Polícia, em Copacabana, e que aproximadamente seis policiais, chamados após a confusão no restaurante, o acompanharam até o local onde fez o registro de ocorrência.

De acordo com a secretária-geral da CDHAJ, o trâmite inicial será voltar à delegacia para ter acesso a todas as informações.

“Com a procuração, iremos buscar acesso amplo ao procedimento, saber como está tipificado, ver o depoimento do autor da lesão, dos xingamentos e das outras práticas criminosas”, declarou Mariana Rodrigues.


“Voltaremos à delegacia para que o depoimento do Matheus fique mais completo e com todos os fatos cobertos. É uma dor imensurável o que esse rapaz sentiu e sente na pele, fora a dor psicológica, e, por isso, a comissão irá atuar para que ele tenha a justiça merecida”.


Cenário de violência toma calçadas do Rio

No dia anterior à agressão de Matheus Faustino, veículos e sites de notícias e vídeos nas redes sociais mostraram as ruas de Copacabana sendo tomadas por uma onda de violência após um grupo de criminosos provocar uma série de assaltos e ataques. Imagens de câmeras de segurança mostraram pessoas sendo agredidas, entre elas mulheres e idosos. Usando esses ataques como desculpa, outro grupo de criminosos, autodenominados ‘justiceiros’, promoveu uma segunda onda de barbárie pelas ruas do bairro.

Em nota divulgada ao portal G1, a Polícia Civil informou que tomou conhecimento da situação e que diligências estão em andamento para identificar os envolvidos e esclarecer os fatos. Os delegados da 12ªDP, em Copacabana, e da 13ªDP, em Ipanema, atuam nas investigações e analisam vídeos de redes sociais para identificar os responsáveis pelos assaltos e pela onda de violência que se espalhou em seguida.

Já o governo estadual e a Polícia Militar anunciaram um “corredor de segurança” no âmbito da Operação Verão. As viaturas ficarão ao longo da Avenida Nossa Senhora da Copacabana.

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