21/11/2023 - 17:23 | última atualização em 21/11/2023 - 17:39

COMPARTILHE

Cevenb realiza seminário com histórias de mulheres negras no campo jurídico

Anos de luta pela reparação e ocupação dos espaços moldaram as falas do encontro

Biah Santiago



No Mês da Consciência Negra e pautados pela trajetória de mulheres negras no sistema jurídico, a Comissão Estadual da Verdade da Escravidão Negra no Brasil (Cevenb) da OABRJ promoveu, nesta terça-feira, dia 21, o II Seminário de Mulheres Negras e Reparação da Escravidão, nos moldes da iniciativa Pretas da Cevenb. 

Assista ao encontro na íntegra pelo canal da Seccional no YouTube ou disponível aqui. 

Em sua participação, o tesoureiro da Seccional, Marcello Oliveira, ressaltou a necessária ocupação de espaços pelos advogados pretos na área profissional.  “A Cevenb contribui para a integração de advogados pretos e pardos na advocacia”, afirmou Marcello. 


“Acredito que ainda estamos distante de chegar no momento em que o sistema seja protagonizado pela população negra. O Brasil coloca para ‘debaixo do tapete’ os problemas históricos, mas precisa centralizar esse tema. Não adianta as vozes isoladas, é preciso agir coletivamente. A Ordem deve ser representativa, colorida, plural, heterogênea e voz da sociedade e da advocacia. Somos responsáveis por dar a essas pautas, o protagonismo e a força merecida para conseguir respostas efetivas”.



Vice-presidente da Cevenb, Alessandra Santos abriu o evento afirmando: “Este projeto visa justamente dar vez e voz às mulheres advogadas negras e aos nossos aliados. Muito se fala sobre representatividade nas instituições, na política e nas empresas em geral, mas é preciso dar espaço a essas mulheres que tanto têm a nos acrescentar".

Ao lado de Alessandra, compuseram a mesa o presidente e o secretário-adjunto da Cevenb, Humberto Adami e Wagner Oliveira; a secretária-geral da OAB/Belford Roxo e vice-presidente da OAB Jovem na Seccional, Ane Medeiros; a presidente da Comissão de Direitos Humanos da Subseção do Méier, Cléa Blanco; a integrante da Cevenb e secretária-geral da Comissão OAB Mulher RJ, Flávia Monteiro; a presidente da Comissão da Pessoa Idosa da OAB/Ilha do Governador, Josinilma Silva; a tesoureira da Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ/RJ), Graciete Sousa; a vice-presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB/Ilha do Governador, Flávia Barros; e a particiapação do Frei David, fundador da ONG Educafro, além de outros palestrantes.

Humberto Adami rememorou as pautas encampadas pela Cevenb, como a luta contra a ADPF 186/2009 pelo Democratas (DEM), documento que pretendia declarar inconstitucional o programa de reserva de cotas para candidatos negros no programa de acesso ao ensino superior da Universidade de Brasília. Em 2014, o Supremo Tribunal Federal fixou um novo precedente, em que considerou as cotas constitucionais e julgou improcedente a ação ajuizada pelo partido.

“No início, a nossa trincheira era árdua, pois éramos poucos, mas, hoje, nós nos multiplicamos”, observou Ane Medeiros ao abordar sobre as reivindicações de mulheres negras feitas ao longo dos anos.


“A reparação é ver mulheres negras ocupando lugares e tribunas enquanto advogadas, conquistando um espaço para dar voz àquilo que não queria ser ouvido e falado na época”, declarou a secretária-geral da Subseção de Belford Roxo.



“Quando colocamos no prisma do movimento antirracista, precisamos não só ocupar os espaços, mas também compreender a leitura de reparação diante de quem somos dentro do movimento em unidade. Não queremos mais sobreviver dentro dessa leitura de igualdade material, quero gozar de todos os benefícios na vida pessoal e profissional”.

Com elenco majoritariamente feminino, as palestras expuseram temas como, por exemplo, o empoderamento da advocacia negra, o enfrentamento de mulheres negras no meio jurídico, e a emancipação financeira da população negra. 

“Existe uma exclusão automática sofrida pela população negra. Ainda temos um caminho muito longo para percorer e que a nossa cor e origem não faça tanta diferença para a sociedade”, analisou a tesoureira da ABMCJ/RJ, Graciete Sousa.

Entre as exposições, estudantes visitaram o Plenário Evandro Lins e Silva, local onde o evento foi realizado, através do projeto ‘Calçada da Cidadania’ - responsável por levar estudantes da rede pública para conhecerem as instalações e as histórias da Defensoria Pública, do Ministério Público, do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e da OABRJ. O diretor do Centro de Documentação e Pesquisa, Aderson Bussinger, agradeceu ao espaço cedido durante o encontro.

Presidente da Comissão da Pessoa Idosa da OAB/Ilha do Governador, Josinilma Silva resgatou o marco para o fim da escravidão, a Lei Áurea, de 1888.

“Refleti sobre vários episódios de racismo, e lembrei dos 135 anos desde a extinção da escravidão. Parece, entre aspas, que houve uma libertação, porém as pessoas negras saíram sem casa e sem trabalho”, ponderou Josinilma.


“Ainda precisamos de muito e podemos mais. A consciência e o respeito não têm cor. Todos nós somos iguais e temos a mesma capacidade. O preconceito é enraizado nas pessoas desde sua infância, mas atitudes como esse projeto e esse evento fazem a diferença, engrandecem a nossa pauta e incentivam oportunidades para as crianças, que são o nosso futuro”.

Abrir WhatsApp