31/01/2017 - 11:17 | última atualização em 31/01/2017 - 11:18

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Cármen Lúcia homologa delação da Odebrecht

jornal O Estado de S. Paulo

No penúltimo dia do recesso do Judiciário, a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, homologou ontem as delações de 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht. A ministra manteve o sigilo do conteúdo dos depoimentos. Com a decisão, ela procurou sinalizar à opinião pública o compromisso de não retardar as investigações da Operação Lava Jato no âmbito do Supremo após a morte do relator, ministro Teori Zavascki.
 
Cármen Lúcia homologou o acordo atendendo a pedido do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que solicitou na semana passada urgência na análise das delações.
 
Caberá a Janot eventualmente pedir ao STF a retirada do sigilo do material sobre a Odebrecht. No fim do ano passado, o procurador-geral disse a parlamentares que pretendia solicitar o fim do sigilo assim que possível. Nos bastidores, a Procuradoria-Geral da República também aguarda a definição do novo relator da Lava Jato no Supremo para avaliar a estratégia a ser usada na investigação.
 
O nome pode ser conhecido amanhã. Cármen Lúcia deve anunciar na sessão de abertura do ano Judiciário o modo como será redistribuída a relatoria dos processos relacionados à operação que investiga o esquema de corrupção na Petrobrás. A tendência é de que o sorteio ocorra no mesmo dia. Na ocasião, também será feita uma homenagem a Teori, morto em desastre aéreo no dia 19.
 
A presidente do STF tem conversado nos últimos dias com colegas da Corte para encontrar a melhor saída para o caso. A tendência é de que determine o sorteio do novo relator entre os integrantes da Segunda Turma - composta atualmente pelos ministros Dias Toffoli, Celso de Mello, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes.
 
Também se discute internamente uma eventual mudança do ministro Edson Fachin da Primeira para a Segunda Turma, como forma de evitar empates nos julgamentos da Lava Jato e retirar das costas do novo indicado à Corte o ônus de ser nomeado para o colegiado que julga a operação.
 
De acordo com fontes ouvidas pelo Estado , alguns ministros defenderam nos bastidores a indicação de um magistrado da Corte para assumir a Lava Jato - evitando um sorteio. A presidente, no entanto, teria sido desaconselhada por integrantes do tribunal a tomar essa decisão, inclusive pelo decano, Celso de Mello.
 
Ontem, poucas horas depois de o Supremo comunicar a homologação, Janot fez uma visita rápida a Cármen Lúcia para buscar os documentos. Abordado por jornalistas, o procurador disse que "não é hora de falar nada".
Com a homologação, a Procuradoria-Geral da República pode começar a analisar formalmente o material para solicitar inquéritos e oferecer denúncias contra políticos e autoridades com foro privilegiado citadas pelos delatores. Os 77 executivos produziram cerca de 950 depoimentos, nos quais relataram propinas em diversos Estados e em ao menos 12 países.
 
A partir de agora, em tese, os delatores da Odebrecht podem começar a cumprir a pena acertada entre os advogados e o Ministério Público. O único executivo do grupo que ainda permanece preso é o herdeiro e ex-presidente do conglomerado, Marcelo Odebrecht. Ele deve ficar até o fim de 2017 em regime fechado, antes de progredir para o regime domiciliar. O pai de Marcelo, o patriarca Emílio Odebrecht, ganhou prazo no acordo para continuar à frente da empresa e fazer uma transição, tentando reerguer o grupo e reestruturar a empreiteira de acordo com regras de compliance.
 
Reações. "O recado que passa para a sociedade é que as instituições estão funcionando e, para os investigados, que não houve paralisação. Ou seja, eles não podem simplesmente apostar no tempo", afirmou ao Estado o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, sobre a homologação. Marco Aurélio disse que recebeu com naturalidade a decisão da ministra de validar as delações. "Eu não supunha que ela fosse homologar, mas recebi com naturalidade."
 
Em nota, a Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe) afirmou que Cármen Lúcia demonstrou "o seu compromisso com a celeridade processual".
 
O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, disse que a homologação das delações é um "ato de justiça". "Não apenas à memória do ministro Teori Zavascki, mas de garantia à sociedade de que o julgamento da Lava Jato não será interrompido ou mesmo atrasado, beneficiando corruptos e corruptores", disse Lamachia também em nota à imprensa.
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