13/06/2014 - 09:42

COMPARTILHE

A cada dois dias, três são mortos em briga de família em SP

jornal Folha de S. Paulo

A cada dois dias, ao menos três pessoas são assassinadas no Estado de São Paulo em razão de brigas de casais ou de conflitos entre membros da própria família.
 
A constatação parte de um estudo do governo sobre as vítimas de homicídios dolosos (com intenção) entre janeiro e abril deste ano. O Estado fez uma radiografia do contexto e da motivação desses crimes e identificou que pelo menos 12,5% do total de 1.606 vítimas nesse período tinham sido assassinados em razão de conflitos entre familiares ou casais.
 
Esse número pode ser ainda maior, já que esse levantamento é baseado em boletins de ocorrência e, em 28% do total de vítimas de homicídios dolosos, não houve uma "classificação prévia" - podendo haver novos casos depois de investigação.
 
Entre os crimes atribuídos pela polícia a membros da própria família estão casos famosos como os de Suzane Richthofen (2002), Gil Rugai (2004), do casal Nardoni (2008) e do garoto Marcelo Pesseghini (2013) - acusado de matar pai, mãe, avó e tia-avó e, em seguida, se matar.
 
Neste ano, um dos crimes de repercussão desse tipo foi atribuído pela polícia à médica Elaine Moreira Munhoz - que matou a tiros seu próprio filho e a namorada dele na Vila Leopoldina (zona oeste) e depois cometeu suicídio.
 
Autoridade paterna
 
O psicólogo e professor da USP Sérgio Kodato diz que há uma série de fatores que influenciam nesse quadro -que vão de crise econômica a desorganização familiar. Ele atribui esse problema das famílias, em parte, à ausência da figura da autoridade paterna que impunha respeito e disciplina aos filhos. "É a mesma coisa que ocorre no Brasil e na escola, que é a falta da figura da autoridade. Então, nesse clima de caos, a tendência é isso afetar parte das famílias", disse.
 
O especialista em segurança pública Luís Sapori diz ver esse problema "como crônico e cultural do país". Para ele, é uma "anomia moral". "Os indivíduos não estão respeitando as regras de Estado, de convivência civilizada, e passam a usar da força física para fazer prevalecer seus interesses", disse Sapori.
 
Apesar do número representativo e da repercussão desse tipo de crime, a radiografia dos homicídios dolosos no Estado mostra que outros fatores são predominantes. Por exemplo, há indícios de execução em 17,7% das vítimas - quando há suspeita de ação planejada de grupos criminosos. Outros 5,6% foram assassinados em razão do envolvimento com drogas, de acordo com a polícia.
 
O total de casos de homicídios dolosos no Estado - para cada caso pode haver mais de uma vítima - vem caindo desde a última década.
 
A taxa por cem mil habitantes, que já foi de 35,27 em 1999, estava em 10,50 em 2013 - acima de 10, ela é considerada epidêmica pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Por outro lado, São Paulo teve alta de crimes contra patrimônio (como roubos e furtos) nos últimos 11 meses - em abril, foi de 29,7% em relação ao mesmo mês de 2013.
Abrir WhatsApp