10/03/2023 - 16:28 | última atualização em 11/03/2023 - 09:48

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Caarj realiza última edição da oficina "Advocacia sem machismo" na sede da OABRJ

Evento discutiu participação masculina em ações de combate à violência de gênero

Felipe Benjamin



Realizada pela Caixa de Assistência da Advocacia do Rio de Janeiro (Caarj), a oficina 'Advocacia sem machismo' realizou nesta quinta-feira, dia 9, o evento "Formas de violência e peças práticas", no Plenário Carlos Maurício Martins Rodrigues, na sede da Seccional, que discutiu questões vivenciadas pelas advogadas no exercício da profissão e a participação masculina em ações de combate ao machismo dentro da advocacia.

"Muitos homens já têm uma percepção muito maior do mal que o machismo causa a todas nós", afirmou, em seu discurso de abertura, a presidente da Caarj, Marisa Gaudio.

"No dia 8 tivemos a assinatura, junto com o Governo do Estado, de um convênio muito importante que nos dá esperança para que tenhamos efetividade nas nossas lutas. Essa é nossa última oficina na sede Seccional, mas queremos ir além nessa campanha e ir às subseções, pois essa é uma campanha coletiva, e precisamos de todos vocês conosco".



Compuseram a mesa de abertura do evento a vice-presidente da OABRJ, Ana Tereza Basilio; o tesoureiro da Caarj, Fred Mendes; a vice-presidente da Comissão de Juizados Especiais da OABRJ, Fernanda Mata, e o presidente da OAB/Petrópolis, Marcelo Schaefer.

"Essa é uma campanha muito importante e também muito desafiadora, porque quando falamos de combate ao machismo dentro de uma área que sempre teve um predomínio masculino e é marcada pelo machismo, essa campanha se torna mais que um projeto e se revela como uma nova maneira de ver o mundo e de alterar a cultura para combater essa chaga que continua a acontecer", afirmou Basilio.


"Esse é o mês das mulheres, e não se trata de um mês apenas para comemorações, mas principalmente de refletir e traçar novas estratégias para reverter esse cenário. A luta pela igualdade de gênero é muito difícil, mas a iniciativa da Caarj é uma imensa contribuição para que tenhamos uma sociedade não apenas mais justa, mas também mais eficiente".



Tesoureiro da Caarj, Fred Mendes destacou a evolução na participação feminina dentro do Sistema OAB e chamou atenção para a Subseção da Leopoldina, da qual foi o primeiro presidente, entre 2010 e 2012, que tem tomado medidas no combate à violência contra a mulher. 

"A Caixa está fazendo 80 anos e é a primeira vez que temos uma mulher na Presidência", afirmou Fred. "Isso demonstra o quanto tivemos que superar e o quanto ainda teremos que nos esforçar no futuro. É esse olhar, que nos permitiu fazer essa virada de chave, que talvez seja o principal objetivo dessa campanha. Fui sucedido na OAB/Leopoldina por uma mulher e essa é uma subseção que revelou grandes nomes dentro da Ordem, e muitos deles, mulheres. A Leopoldina também, por conta de suas características regionais, registra um dos maiores índices de violência doméstica e há um plano do atual presidente, Alexandre Aguilar, de criar uma Delegacia de Mulheres na região para fortalecer o enfrentamento desse problema. Essa luta é constante, e infelizmente, não está perto de acabar, mas se não dermos nossa contribuição, ela se agravará".

Compuseram a segunda mesa do evento, ao lado de Marisa, a diretora-executiva da Caarj, Priscilla Nunes; o presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim), Thiago Minagé; a presidente da Comissão da Mulher da Anacrim e do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Educação Jurídica (Ibrapej), Fabiana Marques, e a presidente da Comissão de Mentoria Jurídica da OABRJ, Thaís Fontes.

"Costumo dizer que sou uma femininsta tardia, porque sempre fui criada para ser o que quisesse e me deparei com a problemática de ser uma mulher no meu primeiro estágio", contou Priscilla.

"Fiz uma prova, não fui chamada e depois de três meses fui convocada. Descobri que, no escritório, foi feito um bolão para adivinhar quanto tempo eu aguentaria tendo que pegar uma van para trabalhar no Fórum de Itaboraí duas vezes por semana. Fiquei dois anos no estágio, mas fiquei muito ofendida. Depois me casei e fui morar no interior, onde o machismo é ainda mais forte que na capital. Tive uma audiência uma semana depois de dar à luz e não consegui que a audiência fosse adiada. Fiz a audiência e meus pontos todos abriram. Tive a oportunidade de dizer ao juiz que isso aconteceu, mas até hoje não sei como ele se sentiu ouvindo isso".



Advogado criminalista, Thiago Minagé destacou como vítimas femininas sofrem com práticas abusivas durante audiências judiciais, relembrando casos de destaque como o da modelo Mariana Ferrer e do jogador de futebol,Daniel Alves.

"Não tenho condições de falar sobre feminismo, mas posso falar com propriedade sobre o machismo", afirmou Minagé.

"Durante o período da pandemia, as audiências virtuais desnudaram as práticas abusivas em audiências, principalmente no caso Mariana Ferrer. O que se faz nos processos criminais quando há testemunhos contrários? Descredibiliza-se a fala da testemunha. E isso é feito com muito mais força contra vítimas que são mulheres. Embora os advogados que façam isso, alcancem sucesso em suas defesas, isso é como dizer que os fins justificam os meios. Sou muito criticado por dizer isso, mas até a ampla defesa precisa de limites. E como trabalhar uma prova de defesa ou contrapor uma prova de acusação sem atacar a dignidade da pessoa que ali está ou seu gênero? Essa certamente não pode ser a única forma de atuar. É preciso conciliar esses institutos".

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