José Mariano Beltrame começou, no dia 1º de janeiro, o seu sexto ano à frente da Secretaria de Segurança do Rio, um feito inédito na história da pasta que é considerada a bomba-relógio do governo. Sobreviveu a crises como a morte do menino João Hélio, em 2007, a morte de 18 homens pela polícia no Complexo do Alemão, aos seguidos casos de corrupção policial e até ao assassinato da juíza Patrícia Acioli. Apesar dos problemas, transformou-se na "menina dos olhos" do governo Sérgio Cabral ao implantar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e derrubar o império do tráfico no Alemão e na Rocinha. Mira agora as armas para a formação dos novos agentes. Quer mais lições de Direitos Humanos e Psicologia, e menos dedo no gatilho. Aposta as fichas na reestruturação das corregedorias para apanhar policiais com aumento de patrimônio e segue com a pacificação da cidade. A bola da vez, diz o gaúcho num bom carioquês, é a Zona Norte. O caminho passa por Jacarezinho, Manguinhos e Complexo da Maré. O DIA: Como foi 2011, secretário? Começou ruim e terminou bem, com a ocupação da Rocinha? BELTRAME: "Eu sou muito cético em relação a conquistas, sempre penso que está melhor do que era, mas que o que vem pela frente é sempre mais importante". A morte da juíza Patrícia Acioli marcou o ano? Todo crime contra a vida nos choca, nos deixa mal. Tentar silenciar a Justiça é algo inconcebível. Porém, a polícia elucidou isso. Foi o primeiro caso de um juiz morto no Rio. Que eu me recorde, sim. Trabalhei no Espírito Santo e lá já tivemos exemplos. No episódio, ficou alguma mágoa com o coronel Mário Sérgio, ex-comandante da PM? Não. Ele trouxe para si a responsabilidade de ter indicado o coronel Cláudio Oliveira (acusado de planejar a morte da juíza, quando era do 7º BPM, em São Gonçalo) para o 22º BPM (Maré). O Mário acreditava que controlaria esse coronel no 22º batalhão. Mário estava hospitalizado, mal falava, e disse: "Secretário, se eu tenho essa responsabilidade, eu tenho que ir embora. O seu projeto é maior que tudo". Por que tantos casos de policiais envolvidos em crimes no Rio de Janeiro? Isso não é novo, não começou em 2007. E hoje se combate isso de maneira visível. A corrupção existe no País e no mundo, e eu pergunto: que instituição pública corta na própria carne mais do que a polícia? O caso de corrupção de policiais da UPP Fallet, em Santa Teresa, foi uma facada nas costas? Não. A UPP não vai resolver tudo. Ela é uma possibilidade. O desafiador é apresentar essa opção à sociedade". O policial que entra hoje na instituição tem na mente dele a corrupção? Que garantia podemos dar? Esses policiais são filhos da sociedade carioca. A formação que vem de casa tem peso vitalício nisso. No caso dos policiais recém- formados, não é uma chance de acompanhar a evolução patrimonial e prevenir os desvios? Em primeiro lugar, não posso acompanhar o patrimônio do policial. Propus isso em 2007, a apresentação espontânea de patrimônio, e fomos rechaçados. Não basta só dar a informação do patrimônio, é necessário uma justificativa jurídica para isso. Em tese, não podemos acompanhar isso. Então, a secretaria tem que cruzar os braços? Estamos lançando, depois do caso do Fallet/Fogueteiro ("mensalão" pago pelo tráfico a policiais da UPP),um mecanismo juridicamente palatável. A PGE (Procuradoria Geral do Estado), a CGU (Corregedoria Geral Unificada) e corregedorias internas estão finalizando o decreto de averiguação preliminar, instrumento que vai nos permitir descobrir possíveis desvios. Teremos visão, em tese, da desproporção patrimonial de um policial. Queria fazer até o fim deste ano, mas a PGE está finalizando esse decreto, que o governador vai assinar. As corregedorias estão estruturadas? Após a Operação Guilhotina, criamos melhores estruturas para as corregedorias, CGUe subsecretaria de Inteligência. Maior efetivo, com melhores condições financeiras e técnicas. Queremos que as corregedorias antecipem o fato. Tirá-las da reação para a proatividade. A CGU e a Coimpol fazem isso. Mas a Corregedoria da PM,não. A PM não tem o monopólio