O modelo caducou Wadih Damous*Uma pesquisa divulgada recentemente sobre as nossas polícias traz números e informações importantes para a reflexão acerca das políticas públicas de segurança. Pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública ouviram 64 mil policiais civis, militares, bombeiros, guardas civis e agentes penitenciários, e o que se revelou foi a alta insatisfação com a gestão da segurança e com as condições de trabalho. Quase 70% querem mudanças. Mais da metade queixou-se de humilhações e um em cada cinco afirmou ter sofrido tortura em serviço. A baixa autoestima é tamanha que a maioria prefere os filhos noutra profissão. No Rio, apesar de avanços e da boa parceria entre os governos federal, estadual e municipal - com os primeiros resultados positivos do Pronasci - continuamos a ter a polícia que mais mata e que mais morre. As informações da pesquisa são interessantes, pois revelam um mal-estar indisfarçável. Do ponto de vista da sociedade, batem com a nossa percepção da instituição policial, da qual precisamos, mas da qual sentimos, muitas vezes, desconfiança e temor. Sentimentos que muito se devem ao conhecido despreparo a que são submetidos os policiais. Dias atrás, 11 pessoas saíram feridas de um protesto de professores. Um PM chegou a apontar a arma para os manifestantes. Mas se os próprios policiais, aí incluídos os superiores hierárquicos, desejam outra polícia e outra política, podemos nos arriscar a dizer que se esboça um entendimento mais amplo, unindo a sociedade e parte do corpo de segurança pública: o de que o modelo atual caducou.*Wadih Damous é presidente da Ordem dos Advogados do Brasil seção Rio de JaneiroArtigo publicado no jornal O Dia, 22 de setembro de 2009