08/07/2009 - 16:06

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Artigo: Silêncio conveniente - José Carlos Tórtima

Silêncio conveniente


José Carlos Tórtima*

Nada mais hipócrita do que as relações internacionais. O grau de apoio ou de condenação a países que no centro de crises ou acontecimentos polêmicos raramente leva em conta valores éticos e humanos da civilização, que deveriam prevalecer no posicionamento da comunidade internacional. A China que não nos deixe mentir. Seu governo promove um massacre contra a minoria muçulmana da província de Xinjiang, com 162 mortos e 800 feridos, contabilizados até a noite de segunda-feira, sem uma única condenação enérgica de qualquer país. Tais cifras são as oficiais, divulgadas pelo governo chinês, e provavelmente estão sendo subestimadas.

A maioria dos governos, inclusive o do Brasil, preferiu silenciar completamente, como se a tragédia humanitária da China não estivesse ocorrendo. Já a ONU e alguns outros países, como os Estados Unidos, preferiram apenas pedir "moderação" do governo de Pequim em relação aos protestos. Um apelo do tipo: "Por favor, espanquem mas não matem os manifestantes".

Qual a razão para tanta apatia da comunidade internacional diante do que ocorre em Xinjiang, a ponto de o episódio ser encarado como mera falta de moderação dos responsáveis? O motivo é tão simples quanto repulsivo: a China é um bom negócio, um parceiro comercial de primeira linha, com seu PIB na casa dos 3 trilhões de dólares e um mercado de mais de um bilhão de consumidores. Qual chefe de Estado seria louco (leia-se: escrupuloso e corajoso) o bastante para arranjar briga com a China, sobretudo num momento de recessão do comércio internacional? Meu Deus, quanta hipocrisia!


*José Carlos Tórtima é presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB/RJ

Artigo publicado no jornal O Dia, 8 de julho de 2009

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