24/11/2009 - 16:06

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Artigo: Opção pelo cinismo - Felipe Santa Cruz

Opção pelo cinismo


Felipe Santa Cruz*

Nossa elite é portadora de um marxismo ortodoxo. Acredita que todos os nossos conflitos derivam da dicotomia entre capital e trabalho, ricos e pobres. Ok! Não somos racistas. Aqui, nestes trópicos, impera a miscigenação de Darcy Ribeiro. Povos misturados em busca de uma nova Roma equatorial. Sinceramente, não aposto nisso.

Acreditar na igualdade racial é o mesmo que chancelar a ideia de superioridade branca.

Séculos de histórias de sucesso de imigrantes portugueses, italianos, franceses, ingleses, todos de origem europeia, ricos ou não e, coincidentemente, brancos.

Olhe em volta! Veja quantos negros se destacaram em séculos de divisão destas terras. Qual o seu espaço na nossa sociedade hoje? As exceções apenas confirmam a regra. Eu frequento mesas de brancos, vou a restaurantes, cinemas, teatros onde quase todos são brancos.

Desafio qualquer um a passear pela Zona Sul do Rio e contar quantos brancos estão na posição de "senhores" e quantos negros usufruem os pequenos prazeres da vida. Sou, como muitos, obrigado a protestar diante das piadas racistas. A maioria, infelizmente, silencia. Acredita que o dano da brincadeira é mínimo. Eu penso que não.

A diferença da nossa para outras sociedades de origem escravocrata é que somos" malemolentes", evitamos a verdade. Como em outros temas, optamos pelo cinismo.

Talvez fosse melhor o conflito, pois dele nasce o novo, como nos Estados Unidos dos anos 60. Importante romper paradigmas que construíram uma sociedade desigual onde não há nada de errado no fato de seu "andar de baixo" ser negro. Estranho lar de uma nova raça este nosso, onde a mesma turma manda sempre, apesar de tão igualitária.


*Felipe Santa Cruz é diretor do Departamento de Apoio às Subseções da OAB/RJ

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