Via crucis do advogado Antônio José Barbosa da Silva* A vida do advogado continua a sofrer os efeitos das medidas que nascem no Congresso Nacional, no Executivo e na cúpula do Judiciário em Brasília, sempre à revelia da classe. Há uma inflação delas para todos os gostos, elaboradas para atender aos Três Poderes, além de entidades particulares. O advogado nunca é ouvido. O pretexto para tantas medidas é o mesmo: combater a morosidade na Justiça. Pela produção demonstram o desejo de tolher o exercício da advocacia e de privatizar parcialmente a Justiça. Já existem as comissões de conciliação prévia, os tribunais arbitrais, os escritórios modelos das faculdades, súmulas vinculantes e os cartórios, que ganharam competência para solucionar os desquites e os divórcios. Não é por esse lado que se pode agilizar a máquina do Judiciário. Há meios mais eficazes para melhorar seu funcionamento, como tecnologia, para acabar com a burocracia, leis modernas e maior número de varas, juízes e servidores. A súmula vinculante, por exemplo, castra o direito dos advogados e juízes de pensar e interpretar a lei e beneficia somente a cúpula do Judiciário. O caminho que o advogado vai percorrer continua e continuará recheado ainda com muitas ondas letais. O Executivo e o Legislativo não estão nem um pouco preocupados com a morosidade da Justiça, porque eles próprios são os responsáveis. Para o ex-presidente da OAB, Roberto Busato, a responsabilidade pela morosidade no Judiciário é da União. "Se ela parasse de recorrer indiscriminadamente de decisões que sabe que não vai ganhar, seria possível reduzir significativamente o número de processos que entulham a Justiça, principalmente os Tribunais Superiores. Para isso o Governo não necessitaria sequer de uma reforma processual, pois é o Poder Público quem mais gasta com a movimentação da máquina judiciária". Essa montanha de deficiência desaba em cima do pobre advogado, que passa a ser o bandido nessa cantilena toda, porque os clientes não querem saber de quem é a culpa e entendem que são enrolados ou ludibriados. A função do advogado é das mais importantes e não pode ser desprezada, porque ele é um eterno defensor do estado democrático, da verdade e da cidadania. O advogado pode ser considerado um guerrilheiro da democracia, do império da lei e dos direitos dos cidadãos. Acreditem. Há um movimento para desgastar e desprestigiar a advocacia, culpando-a pela morosidade do Judiciário. Existe a necessidade da uma forte união em defesa intransigente dos interesses dos advogados com vista ao fortalecimento da classe. *Antonio José Barbosa da Silva é presidente da OAB/Niterói e vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio.