Apenas a verdade José Carlos Tórtima* Políticos e governantes deveriam optar sempre pela verdade quando tivessem explicações a dar à opinião pública. Se não por dever ético, que seja por sagacidade. A experiência demonstra que é perigoso flertar com a mentira, aliada traiçoeira e imprevisível, que tem arruinado a carreira de muito cacique tarimbado,até mesmo no Primeiro Mundo. Mentir para opinião pública, além de eticamente reprovável, pode ter consequências desastrosas, pois a verdade sempre acaba aparecendo - ou quase sempre - e desacredita os que tentam escondê-la. Torço, portanto, para que Lula e seus ministros não caiam na tentação de maquiar a verdade sobre o que provocou realmente o apagão da semana passada, temendo eventual desgaste para a agenda eleitoral do ano que vem. Não tenho, sinceramente, em princípio, razão alguma para duvidar da versão oficial - um curto circuito - sobre a causa do problema nas linhas de transmissão de energia, a partir da Usina de Itaipu. Até porque não haveria qualquer motivo razoável para deixar de encarar a verdade, nua e crua, a tal respeito. Curto-circuito, sobrecarga na rede, falha humana, se alguma culpa teve o governo pelo momentâneo colapso energético - o primeiro de grande magnitude na administração Lula-a única solução correta e, sobretudo, inteligente é admitir o erro. Apontada a verdadeira causa, e, sendo o caso, apuradas as responsabilidades, a própria exploração política do episódio pela oposição fracassará. Até porque, em matéria de pecados na gestão de energia, fica difícil encontrar nos governos passados quem possa atirar a primeira pedra. José Carlos Tórtima é presidente da Comissão de Segurança Pública da OAB - RJ Artigo publicado no jornal O Dia, 18 de novembro de 2009