27/03/2017 - 09:52 | última atualização em 27/03/2017 - 09:54

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"Airbnb" entra em pauta nos condomínios

jornal O Estado de S. Paulo

Os administradores de condomínios, síndicos e moradores estão precisando lidar com uma novidade: o aluguel de curta temporada nas grandes cidades por meio de plataformas online como o Airbnb.
 
Funciona assim: o proprietário cadastra o imóvel inteiro ou apenas um dos quartos no site, adiciona fotos,valores e explica as regras da acomodação. O usuário que deseja se hospedar pesquisa a melhor opção e pede para reservar. Se o anfitrião aceitar, o inquilino agenda e paga pelo portal .Depois de dar entrada no imóvel, é descontada a taxa administrativa do site, e o dinheiro vai para o proprietário.
 
Esse movimento de hóspedes em condomínios residenciais é comum em cidades de praia ou de campo, durante feriados e alta temporada. Mas em metrópoles acostumadas apenas com hotelaria, a circulação de novas pessoas em condomínios residenciais criou um fato novo para esses conjuntos.
 
Em São Paulo, o síndico Tiago Monteiro, do condomínio Inn Berrini, na zona sul, conta que o prédio está se adaptando às mudanças. "Alguns moradores, no início, questionaram o sistema, porque não sabem quem chega e quem sai. Mas, na verdade, já estávamos acostumados com a rotatividade, porque várias unidades são de companhias que recebem executivos de outras cidades", diz. Tiago também consultou advogados para entender quais as regras que regulamentam esse tipo de locação.
 
"Não podemos impedir que o proprietário alugue o imóvel. Nossa alternativa é regulamentar internamente." No Inn Berrini, é necessário comunicar com antecedência a portaria e a administração, indicando nome,número de documento e duração do aluguel. "Não enxergamos essas plataformas como algo ruim, pensando até financeiramente diante da crise. Mas, para apoiar, o condomínio precisa que os proprietários façam aparte deles."
 
Raquel Nicastro é síndica de um condomínio na Bela Vista que tem 144 apartamentos - 15 deles estão disponíveis em sites como Airbnb, Booking.com e Alugue Temporada.
 
Para gerenciar o vaivém, ela criou um grupo no Whatsapp com os proprietários que também alugam e definiu normas. "Cada apartamento tem de ter um quadro com todas as regras de convivência do condomínio e nossos funcionários não podem dar informação, ficar com chaves ou prestar serviço para esses inquilinos temporários. Isso tudo é de responsabilidade do anfitrião", conta Raquel, que afirma nunca ter tido problemas com esses hóspedes. "Játive mais trabalho com inquilino fixo, que agrediu funcionário."
 
Receio
 
Síndico de um prédio em Copacabana, no Rio de Janeiro, Henrique Pinto diz que vários proprietários alugaram apartamentos durante a Copa e a Olimpíada, mas um casal costuma locar em feriados ou finais de semana para reforçar o orçamento. "Quando você aluga por um ano, via imobiliária, você tem uma certa segurança. É diferente de alugar por três, quatro dias.Aqui no prédio,nossos porteiros trabalham das 6h às 20h. Durante anoite,para entrar é preciso de um código. Eu me sinto vulnerável dando essa senha para várias pessoas que não conheço", diz Pinto.
 
Para evitar essa sensação, um condomínio da Vila Olímpia, em São Paulo, onde Valquíria Bento é síndica, proibiu o aluguel por períodos curtos, por meio de plataformas online. A decisão, tomada em assembleia e registrada no regimento, surgiu depois de um trauma: a incorporadora responsável pela construção faliu e os proprietários que compraram os imóveis na planta tiveram que lidar com a Justiça para conseguir a entrega dos apartamentos.
 
"Nós tivemos que terminar o condomínio por nossa conta e isso nos deixou receosos. Então, na primeira assembleia, definimos que só seria permitido aluguéis de longo prazo." Valquíria, porém, afirma que a decisão pode ser revista, caso haja interesse dos proprietários. "Naquele momento da finalização das obras e entrega dos imóveis era inviável aceitar. Precisaríamos de um treinamento melhor dos porteiros e daríamos um volume maior de afazeres para os nossos funcionários", diz. "Mas se novos moradores - ou mesmo os antigos - questionarem, podemos reconsiderar a decisão."
 
Em Curitiba, onde um condomínio havia proibido esse tipo de locação, um proprietário recorreu à Justiça e seu pedido foi acatado pela juíza. Segundo a decisão provisória que suspendeu os efeitos da assembleia, "não é possível a restrição à propriedade, cujo direito está previsto na Constituição Federal, conferindo ao proprietário o direito de usar, fruir, dispor e gozar de seu bem,respeitada a função social da propriedade".
 
Com a intenção de evitar conflitos no prédio onde mora, mesmo nunca tendo sido questionada, T.P. não conta aos vizinhos que aluga um quarto no seu apartamento. "Deixo nome e número de RG dos hóspedes na portaria, mas não dou satisfação sobre quem eles são. Por segurança, já que sou mulher e moro sozinha, informo apenas a minha vizinha de porta."
 
A anfitriã aluga o quarto no Airbnb desde 2015 e já recebeu 15 hóspedes. "Não tive problema e ninguém nunca causou danos ao condomínio. Tomo todos os cuidados sugeridos pelo Airbnb e também deixo as regras do condomínio bem claras no site", conta. A paulistana começou a alugar o quarto porque queria juntar dinheiro para reformar o apartamento. Logo depois, foi demitida e a locação a ajudou apagar as contas. "Se alguém faz algo errado, ele será mal avaliado ou denunciado no site, o que ajuda a evitar que esse mau hóspede alugue a casa de outras pessoas."
 
Essa é adica dada também pelo presidente da Associação dos Síndicos de Condomínios Comerciais e Residenciais do Estado de São Paulo (Assosíndicos), Renato Tichauer, que é síndico em dez condomínios. "É a nova economia, a economia compartilhada. Muita gente está usando isso para ganhar dinheiro e sair da crise. Não é viável ir contra. O que a gente pode fazer é criar formas de garantir a proteção do condomínio e dos outros moradores, ao mesmo tempo em que facilitamos que as hospedagens sejam bem feitas", afirma.
 
Como hospedar bem
 
O portal Airbnb faz sugestões para que os anfitriões tenham boas experiências com os inquilinos temporários. Os entrevistados também dão algumas dicas. Confira:
 
Peça verificação
O site permite que o anfitrião só aceite hóspedes que cadastrem documentos originais no portal. Escolha essa opção para saber quem vai ficar na sua casa.
 
Olhe o histórico
Veja as avaliações e comentários que o inquilino já recebeu em outras ocasiões. Assim, é possível analisar o perfil do visitante e ver se ele combina com você.
 
Seja claro
No site, escreva todas as regras da sua casa e do condomínio. Se possível, deixe um aviso dentro do imóvel. A clareza evita que o hóspede incomode vizinhos ou funcionários.
 
Avise o condomínio
Evite sobrecarregar porteiros, faxineiras e síndicos com funções que não cabem a eles. Como os condomínios estão em fase de adaptação, é melhor não importunar com atribuições.
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