Evandro Aleluia

30/12/1971 - 28/05/2021

Presidente da comissão meritiense da Verdade da Escravidão Negra ensinava música a jovens carentes antes de abraçar o Direito. Entusiasta de João Cândido, fez do ofício também uma via de transformação

"Evandro se foi aos 49 anos. Éramos casados havia 14 anos, mas ficamos juntos por 17. Tivemos um filho, Matheus, de 13 anos. 

Ele se formou em Direito em 2005 e em 2008 montou o escritório onde advogou até o fim. Aceitava causas de Previdenciário, Cível, Trabalhista, Família. A exceção era o Criminal. 

Antes de cursar Direito, ele era professor de música num projeto social sediado num Ciep, voltado para tirar adolescentes do mundo das drogas. Por ter sido criado na Igreja Católica, desde muito cedo desenvolveu um olhar para as questões sociais. Não demorou para encontrar na profissão uma via para a militância social. Juntou-se a outros advogados negros da subseção e formaram na OAB/São João de Meriti uma das primeiras comissões da Verdade da Escravidão Negra no Brasil de subseções, da qual era presidente. 

Era um entusiasta de João Cândido (líder da Revolta da Chibata, insurreição contra os maus-tratos impostos aos marinheiros, que tornou-se, em 2019, herói meritiense). A construção de um museu dedicado à memória do Almirante Negro era um emblema do grupo liderado por Evandro. 

Ficará marcada em nós a alegria de Evandro. Nestes 17 anos que passamos juntos, era difícil vê-lo triste. Era muito feliz, ‘pra cima’, ‘do bem’. Como a mãe dele falou no enterro, Evandro não tinha inimigos. Deixou inúmeros amigos. Gostava muito de gente, quanto mais, melhor. Sempre via o lado bom das pessoas que cruzavam seu caminho. Ele deixou muitos ensinamentos a mim e ao nosso filho. Em família, resolvíamos tudo na base da conversa. Não havia estresse ou discussões na nossa casa. 

Foram 18 dias de luta no hospital. Antes, ele havia passado uma semana sentindo-se mal em casa. Por causa da Covid, o Brasil está ficando mais pobre de pessoas boas”. 

Depoimento da viúva, Janaina Ignez de Souza Aleluia, à jornalista Clara Passi

Abrir WhatsApp