Nestes tempos de ressurgimento de certo fundamentalismo religioso, nos vem à lembrança fato ocorrido, há muitos anos, nos Estados Unidos.

Com esse nome – “O Julgamento do Macaco” – ficou mundialmente conhecido o rumoroso processo em que se pretendia a condenação do jovem professor americano John T. Scopes, que lecionava em uma escola pública na cidade de Dayton, no Estado do Tennessee. Seu “crime”: haver ensinado a teoria da evolução de Darwin – o que era proibido naquele estado por uma lei chamada Butler’s Act – e haver contestado que a terra fosse plana.

Segundo a teoria de Darwin, como é sabido, o homem seria resultado da evolução do macaco, colidindo com a teoria criacionista, da Bíblia Sagrada, que se depreende da história de Adão e Eva, no Livro do Gênesis.

O jovem professor foi preso em plena sala de aula e submetido a humilhação, processo e julgamento.

Na acusação, atuou o famoso advogado William Jennings Bryan, vigoroso cristão fundamentalista. Quanto à defesa, segundo consta patrocinada pela American Civil Liberties Union (Aclu), atuou o não menos célebre Clarence Darrow, notável advogado americano, defensor de direitos civis.

Chega o dia do julgamento, com todas as chances contra a defesa. Clarence Darrow havia arrolado várias testemunhas, todos cientistas, que o juiz se recusou a ouvir sob o pretexto de que o que estava em discussão era... a Bíblia. Clarence chama, então, Mathew Brady March, reconhecido conhecedor e intérprete do livro sagrado.

Pois é exatamente a reinquirição do expert em Bíblia que traz o argumento capaz de coroar a tese da defesa.  Se Deus criou o homem com livre arbítrio, capacidade para pensar, não pode o homem ser punido por pensar. Fé e ciência, portanto, não são excludentes.

Já disse alguém: o problema não é a fé, mas o fanatismo.

E o que isto tem a ver com o advogado?

Tudo a ver.

Para começar, não se tem notícia se o advogado era ou não religioso. Sabe-se que era um defensor de direitos civis, mas não há indicação de que professasse, ou não, uma fé. Segundo, tinha conhecimento do processo e a preparação para enfrentar as resistências que certamente encontraria. E, terceiro, a presença de espírito para fazer a pergunta chave a uma testemunha de última hora e certamente “hostil”.

Vale a pena ver o filme, “Inherit the wind”, lançado no Brasil com o nome “O vento será tua herança”, de preferência o original para cinema, de 1960, com direção de Stanley Kramer, e cujo elenco traz Spencer Tracy, Fredric March, Gene Kelly, Dick York, Harry Morgan, Donna Anderson e Claude Akins.

E, se alguém estiver curioso para saber a origem do nome do filme, vai encontrar a resposta na Bíblia Sagrada, Livro de Provérbios, 11:29.

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