02/06/2017 - 14:58 | última atualização em 02/06/2017 - 16:49

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Ivone Caetano abre a I Conferência Estadual da Mulher Advogada

redação da Tribuna do Advogado

Foto: Bruno Marins   |   Clique para ampliar
Recém-nomeada diretora de Igualdade Racial da OAB/RJ, Ivone Caetano, que fez história sendo a primeira juíza e desembargadora negra do TJ/RJ, foi a palestrante da noite de abertura da I Conferência Estadual da Mulher Advogada, realizada dia 1º de junho na sede da Seccional. O evento, organizado pela comissão OAB Mulher, continua nesta sexta, tendo como tema principal Democracia, política e prerrogativas.
 
A abertura memorável, que lotou o salão principal da sede da OAB/RJ com representantes de diversas subseções e seccionais, teve como mais um de seus pontos principais a homenagem à ex-presidente da OAB Mulher Daniela Gusmão, responsável pelo início da implantação do Plano Estadual de Valorização da Mulher Advogada que trouxe, entre outras novidades, a adesão da Seccional à campanha mundial da ONU Mulheres Eles por Elas, que clama pela necessidade de união dos homens na luta pela igualdade de gênero.
 
“Se estamos aqui nesse auditório lotado é por causa do trabalho de todas nós, juntas. Isso mostra que temos força, já somos a metade da advocacia. Alguém em algum momento disse que nós tínhamos um papel secundário. Em algum momento disseram que as mulheres tinham que ser rivais das outras. Isso é mentira. A diversidade é algo muito importante é nela que a gente cresce e se respeita. Sabemos que temos ideias diferentes, mas queremos atingir o mesmo fim. Temos que nos respeitar. Não vamos falar mal da mulher ao lado, da roupa dela. Vamos respeitar o discurso da colega, respeitar as mulheres que estão nessa luta conosco. Nossa força vem da nossa união”, clamou a presidente da comissão, Marisa Gaudio.
 
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Ao receber a homenagem da colega, Daniela Gusmão contou que passou o trabalho da OAB Mulher para ela ao perceber o perfil de Marisa para aplicar bem o projeto de interiorização da discussão de gênero, planejado como meta da comissão para 2017: “Acho que isso demonstra muito do que é ser mulher, o que é uma comissão da mulher advogada: é a capacidade da gente trabalhar em conjunto, com todas as características femininas que são tão importantes nesse mundo que está em um retrocesso absurdo, e como é importante a gente saber que a outra pessoa pode ser mais útil em determinado momento. É assim que a gente cresce e segue adiante”.
 
Presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada, Eduarda Mourão ressaltou a ligação do papel institucional da OAB com a defesa da igualdade de gênero: “Defendemos justiça social e direitos humanos, então não podemos esquecer das mulheres. E há mulheres sofrendo. A democracia não tem sido respeitada”, afirmou, apontando questões como a violência obstétrica e a diferença salarial. “É incrível que em pleno século 21 ainda tenhamos que falar em igualdade de gênero, ainda tenhamos que reivindicar nosso lugar à mesa, quando isso deveria ser tão natural quanto respirar. A OAB está nessa luta, mas precisa se fortalecer com o olhar feminino. A OAB precisa de vocês”.
 
Vice-presidente do Instituto dos Advogados Brasileiras (IAB) e presidente da Comissão de Direito Sindical, Rita Cortez apontou a ligação da causa feminina com os projetos em curso no Congresso Nacional de reforma trabalhista e da Previdência. “Precisamos ficar muito atentas ao que essas mudanças representam para nós. As reformas trabalhistas atingem em cheio as mulheres. Isso sem falar da Reforma Previdenciária. Percorremos um longo caminho de conquistas e não podemos que a ilegitimidade de um governo que não coloca essas questões em discussão provoque essas mudanças que representam um rompimento com o pacto constitucional que foi firmado em 1988”.
 
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Representando a diretoria da Seccional à mesa, que também contou com a diretora de Inclusão Digital, Ana Amélia Menna Barreto, o tesoureiro e presidente da Comissão de Prerrogativas, Luciano Bandeira observou que a cota de 30% para mulheres no conselho é, na sua opinião, ainda pequena, considerando o número de advogadas: “Só no Rio de Janeiro as mulheres são 47,8% da advocacia. Projetamos que até o fim do ano devem ser cerca de 58%”.
 
Segundo ele, é preciso haver uma mudança cultural para que, no futuro, as cotas não sejam mais necessárias: “Isso depende da luta não só das mulheres, mas de cada um de nós, advogados, de cada homem da sociedade, no reconhecimento da construção de uma cultura em que a mulher tem que ser respeitada pela sua capacidade, sabendo que não há limites nem restrição à sua participação em qualquer segmento da sociedade”.
 
Símbolo da luta da mulher na sociedade, na visão de Luciano, a diretora de Igualdade Racial da Seccional, Ivone Caetano proferiu sua palestra frisando as desigualdades que permeiam entre homens e mulheres na sociedade e no mundo jurídico, citando exemplos de processos com decisões tidas como machistas.
“Já repararam quantas vezes uma mulher que está em uma posição de poder é interrompida quando vai se manifestar publicamente?”, questionou, falando sobre a prática chamada internacionalmente de maninterrupting (interrupção masculina, na tradução).
 
Ela citou também os problemas enfrentados por uma mulher quando vai fazer uma denúncia em uma delegacia ou em um hospital, principalmente uma mulher negra.
“Quantas vezes vocês acham que eu já passei por situação de preconceito? Definitivamente, não estamos em um país de democracia racial. Mas eu posso tudo que eu quiser. Demora muito mais, dói muito mais, mas a gente pode. O que falta é o empoderamento da mulher. Eu nunca tive vergonha da minha raça, nem da minha cor, nem do meu nariz chato. Eu me achava linda, me acho linda. Porque assim minha mãe me ensinou. Eu vi uma mulher lutar, tive essa referência . Mas não é preciso ser filha de lavadeira, irmã de onze irmãos negros para se empoderar”, disse ela.
 
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Citando sua experiência de vida, Ivone contou que certa vez foi questionada por sua atuação frente à Vara da Infância e da Juventude: “Um juiz publicou em um jornal que uma mulher que tem no DNA o abandono familiar não poderia ser uma boa juíza da infância e juventude. Se fosse homem ele faria isso? Não sofri abandono familiar, e sim paterno. E justamente por conta disso tentei fazer com que mais  crianças e adolescentes por ali não passassem por isso. Fiquei mais forte”.
 
A união, pregada por todos os palestrantes, foi a mensagem final de Ivone: “A gente só consegue consertar o mundo se nos unirmos. Pois não tem jeito: preconceito de gênero e racismo são problemas de toda a sociedade.”
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